terça-feira, agosto 29, 2006

ida ao açougue

Não vou contar detalhes de como a carne foi encomendada dias antes e, quando eu cheguei lá, não tinha nada separado ou reservado.

Então ele começou a cortar o dito “rump steak” (picanha). E o açougueiro:
- Quanto?
- Quatro quilos.

Ele cortou um pedacinho. Repito: ele cortou UM pedacinho. Colocou na balança que marcava menos de um quilo, pouco mais de 700 gramas. O imbecil virou para mim e perguntou:
- Tá bom?
- Não, eu quero quatro quilos!

Então ele cortou mais um pedaço e colocou na balança. Repito, somente mais UM pedaço. O marcador mostrou pouco mais de um quilo. O açougueiro olhou para mim e perguntou novamente:
- Agora tá bom?

Nesse momento eu perdi a paciência. Eu elevei a voz (geralmente não faço isso, mas tem hora que não dá) e no meio do açougue todo mundo podia me ouvir:
- EU PEDI QUATRO QUILOS!

E aqueles que viraram para ver o que estava acontecendo puderam ver eu fazendo o número 4 com meus dedos e repetindo:
- QUATRO QUILOS! QUATRO QUILOS!

A anta com cérebro de ameba sorriu. Coitado, estava um pouco constrangido. Então ele disse:
- Vou ter que pegar mais.

Claro que não respondi. Era óbvio que ele tinha que pegar mais. Então ele cortou mais alguns pedaços e, finalmente, a balança chegou perto dos 4 quilos.

Dessa vez deu tudo certo, coisa rara de acontecer por aqui.

PS.: A encomenda era de 6 quilos.

segunda-feira, agosto 28, 2006

réquiem para Plutão (o non-sense astrológico)

Plutão agora não é mais um planeta, mas sim o que chamam de “planeta-anão”. Não fico triste que com esse “sentimento de perda” que muitos astrônomos (ou pessoas normais) podem estar sentindo. O objeto continua lá, do mesmo jeito, dizer se ele é “A” ou “B” não importa, é uma questão de definição.

O interessante dessa história não é a astronomia, mas sim a astrologia. Conforme essas “teorias” (a palavra correta seria “crença”), os objetos celestes influenciam nossa vida, nossas ações. Um estudo aprofundado do comportamento desses corpos pode até mesmo prever o que irá acontecer com a gente, como se fôssemos umas espécies de marionetes dos planetas, estrelas, cometas e afins. Pura besteira sem sentido, diga-se de passagem.

A astrologia nasceu na tentativa de relacionar o comportamento dos astros com a previsão do tempo. Não estavam tão errados naquela época. Por questões gravitacionais, a lua muda a maré, como já sabemos. Então acredito que essa influência está cientificamente comprovada. Mas em algum ponto da história a astrologia mudou seu rumo e agora é até mesmo matéria de estudo em universidades conceituadas (que caíram no meu conceito depois disso).

A história da astrologia confirma que após a descoberta do próprio Plutão demorou-se para aceitá-lo nos “estudos”. Agora, com a simples mudança de definição, a astrologia não vai sofrer nenhuma alteração, continuando a usar o pobre planeta rebaixado em seus “cálculos”. Plutão continuará lá, da mesma forma que a astrologia. Então eu me pergunto: vários corpos são descobertos no espaço, incluindo no sistema solar, e o que isso significa para a astrologia? Peguemos o exemplo de Xena, um corpo nos confins do sistema solar que é maior até mesmo que Plutão. Seria ele considerado nas análises dos astrólogos? Pouco me importa. Chegar a conclusão que “coisas ruins vão acontecer” é tão abrangente que qualquer ameba, vendo alguns outros seres unicelulares se multiplicarem, pode concluir a mesma coisa. O detalhe é que tal ameba terá mais fundamentos que um astrólogo.

quinta-feira, agosto 24, 2006

a vida…

Eu não fiquei surpreso quando vi o retorno fechado. Bem, a empresa onde trabalho fica de frente para a principal avenida da cidade, mas em uma região mais afastada do centro. Essa avenida tem duas mãos, com um “canteiro” no meio. Em algumas partes dela existem os retornos, para os carros que estão indo volteram e vice-versa. Normal, como acredito ser em qualquer outra parte do mundo.

Mas o jeito que esses retornos são usados aqui é interessante. Não me assusto mais quando alguns deles estão quase bloqueados por pessoas esperando as “lotações” (aqui se chamam “matatos”). Isso mesmo, os retornos são pontos de matato. Mas isso eu já acostumei.

Ontem eu tava voltando para casa na hora do almoço e eu sempre pego um determinado retorno nessa avenida principal. Mas o retorno que eu pego tem uma particularidade: ele tem um desnível, pois nesse ponto uma pista é bem mais alta que a outra. Então o carro entra no retorno, anda alguns metros, faz uma curva de 180 graus já subindo, e depois continua subindo até chegar no mesmo nível da outra pista. Mas ontem estava bloqueado por causa de um caminhão que tentou usar esse retorno e, inevitavelmente, sua carreta despencou no meio da subida, enquanto o cavalo continuava na pista.

Qualquer pessoa com o mínimo de noção saberia que é simplesmente impossível para uma carreta fazer uma curva de 180 graus em um espaço mínimo, com características de estacionamento de shopping center. E é difícil não se sentir assustado, pois a carreta poderia estar carregada e meu carro poderia estar na parte de baixo da pista... Enfim, a responsabilidade é nula e a burrice é infinita. Como já estou acostumado a ver por aqui faz tempo.

terça-feira, agosto 22, 2006

processo…

De todos os brasileiro no Quênia, o único com o visto de trabalho negado sou eu. Ao perguntar para o pessoal do escritório de imigração os motivos só obtemos como resposta o velho e conhecido “não sei”. E aposto que nem mesmo os caras que negaram sabem o porquê. Meus documentos e meus registros estavam tão atualizados quanto os de outras pessoas que já estão com seus vistos em mãos a mais de um mês.

Então fui para a apelação, mandando uma carta diretamente para o ministro. Tudo depente dele. Se ele aprovar, tudo bem. Se ele negar, ninguém sabe... Tudo ainda é indefinido. Mas eu tenho a sincera impressão que eu volto mais cedo para o Brasil...

quinta-feira, agosto 17, 2006

e...?

A teoria é simples: tudo sempre vai piorar. No começo você acha que o futuro reserva grandes momentos para sua vida medíocre. Mas tudo passa. E você começa a perceber que o tempo que você perdeu sonhando foi exatamente o tempo que você perdeu para realmente tornar seus sonhos realidade. Então será tarde.

Em algum lugar você parará para pensar a respeito do que fez e do que podia ter feito. Arrependimentos virão. Como um perfeito ser patético, dará de ombros sobre a própria sorte, mentindo para você que é feliz e que nada poderia ser diferente, pois você sempre faz as escolhas certas. Mas bem lá no fim, no último minuto, no último suspiro, você pode relembrar dos fatos mais importantes e perceber o quanto tanto sofrimento foi inútil...

segunda-feira, agosto 14, 2006

comunicado interno

Em vista dos recentes acontecimentos declaro que a partir de agora algumas mudanças estruturais acontecerão. Peço a gentileza que todas as minhas células leiam com atenção esse comunicado e que quaisquer dúvidas poderão ser sanadas por e-mail ou por telefone (favor verificar os contatos na assinatura abaixo)

1) Aos neurônios:
a. Fica, a partir dessa data, proibido SEM AVISO PRÉVIO o contato com leitura de baixo nível. Por leitura de baixo nível entende-se:
i. Romances estúpidos feitos para adolescentes desmiolados;
ii. Paulo Coelho;
iii. Revista Veja (em especial Diogo Mainardi);
iv. Best Sellers em geral (com raras exceções a serem apuradas pela diretoria);
v. Demais livros, artigos, revistas, páginas da internet que são totalmente desprovidas de humor e/ou inteligência.
b. Está rigorosamente PROIBIDO seguir alguma religião, crença ou superstição popular ou desconhecida.
c. Questões filosóficas devem ser imediatamente comunicadas para as mãos, para que as mesmas possam transcrever as idéias.
d. Estabelecer uma rotina de criação, seja ela vinculada à literatura, cinema ou filosofia. As mesmas devem ser comunicadas para as mãos imediatamente, não sendo tolerados atrasos.
2) Às mãos:
a. As funções essenciais de manusear objetos continuam em vigor;
b. Escrever, preverencialmente em meio digital, todas as informações passadas pelos neurônios. Não serão tolerados atrasos ou falta de vontade.
c. Favor ficar o mais longe possível do órgão sexual.
3) Às demais células:
a. Favor prosseguir com as atividades normais, colaborando o máximo possível para as mudanças estruturais acima citadas. Não serão mais tolerados desvios e os avisos prévios, a partir desse momento, cairão para apenas 2 (dois).

Espero a colaboração de todos nesse novo empreendimento que visa, acima de tudo, um melhor desempenho de todas as partes envolvidas.

Agradeço a atenção e quaisquer dúvidas não hesitem em entrar em contato,

Eduardo L. Naka
CEO – Eduardo L. Naka

domingo, agosto 13, 2006

era uma vez…

Eu nunca vou esquecer o dia em que morri. Foi em uma manhã de sol, daquelas mais próprias para o cinema do que para uma vida real. Acordei feliz, eu era jovem. Tinha muitas realizações pela frente e o futuro enchia minha alma de esperanças e meus olhos de sonhos. Tomei um café reforçado, pois eu ia encontrá-la. Mal podia acreditar, depois de tanto tempo gostando daquela garota eu havia descoberto que ela também gostava de mim. Tínhamos saído na noite anterior. Tínhamos feito amor embaixo da luz da lua, na sacada do apartamento da amiga dela, onde a festa tinha rolado. Ela era linda... Foi uma das melhores noites que já tive, ironicamente a minha última. Mas essa história não é sobre as minhas realizações, mas sim para contar como eu morri. Bom, fui atropelado por um caminhão desgovernado, que subiu em cima da calçada. Justamente na calçada onde eu estava caminhando... Depois disso era uma vez eu.

quinta-feira, agosto 10, 2006

notícias de um país cujo nome começa com “Q” e termina com “ÊNIA”

Dirigir aqui é uma grande aventura. Confesso que, depois desse ano, estou muito mais agressivo no voltante do que antes. Raramente respeito a vez dos outros, da mesma forma que fazem comigo milhares de vezes. Mas essa história não aconteceu comigo.

Meu amigo estava voltando de um trabalho. Um ciclista entrou na rua e ele permitiu que ele ficasse na sua frente. O trânsito estava congestionado, sempre está. Assim que chegaram em uma rotatória, meu amigo viu um carro vindo pela rua lateral. Ele já estava dentro da rotatória, portanto a preferencial era dele. De longe ele viu que, mesmo com a rotatória cheia de carro, a motorista não ia parar (infelizmente era mulher, mas nada contra as mulheres no volante). Ela veio, veio e veio... E ele pensou: “ela não vai parar e vai atropelar o ciclista!”. E foi quase o que aconteceu. Ela simplesmente entrou na rotatória e bateu na bicicleta. Por sorte a bicicleta já tinha passado, pegando apenas na parte de trás. O ciclista, obviamente, caiu e a bicicleta ficou meio torta. Enquanto isso o carro não parou (isso mesmo, ela não parou), simplesmente continuou acelerando até bater e parar no canteiro no meio da rotatória, ficando meio de lado, com o carro afundado em uma vala. Simplesmente não parou!

Acontece que existe um mecanismo oculto em todos os carros que, assim que você pisa, ele pára. Chama-se freio. Infelizmente era desconhecido daquela anta ao voltante. Mas isso não era o pior, as consequências é que nos deixam de boca aberta. Todos no carro, inclusive motorista, riam sem parar do que tinha acontecido. Quase mataram um ciclista, deixaram o carro de lado no meio do canteiro da rotatória, e mesmo assim riam sem parar. Todos eles. O ciclista foi auxiliado pelo meu amigo, que viu o estado da bicicleta e falou: “agora vá falar com eles para arrumar sua bicicleta”. O ciclista deu de ombros e falou: “deixe pra lá” e simplesmente montou novamente em sua bicicleta e foi embora. Meu amigo nos contou essa história, dando ênfase para o fato de que se ele não tivesse deixado o ciclista entrar na frente dele, era ele que ia ser atingido pela anta ao volante que entrou na rotatória com tudo. E o pior: ainda achou engraçado.

Episódios como esse nos revelam que a estupidez, além de ser comum, é vista com muita graça. Tudo bem rir de episódios como esse depois que o susto passa, mas na hora? Simplesmente inacreditável... Estou vendo que um dia vai chegar a minha vez.

quarta-feira, agosto 09, 2006

novos comentários

Peço desculpas pelos comentários perdidos. Mas, tratando-se de internet, essa maravilhosa porcaria que inutiliza ainda mais nossas vidas, pode-se esperar de tudo.
Até parece que estou no Quênia...

terça-feira, agosto 08, 2006

a gente acaba rindo, pois não temos outra alternativa

Aconteceu com um de nós (malditos brasileiros no Quênia):

Precisamos de alguns documentos da imigração. O que eles chama de Work Permit (e está dando voltas em torno do próprio eixo faz mais de um ano). A burocracia é a maior que eu já vi na minha vida. O centro de informações é uma “beleza” (eles nem sabem o que pedem mais, tentado claramente dificultar o processo para serem subornados). Chegou ao ponto de pedirem o “carimbo da saída e entrada do Brasil no passaporte BRASILEIRO”. Mas que porra é essa? Eu sou BRASILEIRO e no meu PAÍS eles não carimbam MERDA NENHUMA DE PASSAPORTE DOS SEUS CIDADÃOS. E eu acredito que em NENHUM OUTRO PAÍS isso acontece! Daí eles olham com cara de bunda, e fingem que voltam a trabalhar. Mas não era sobre isso que eu ia contar.

Pediram as digitais de alguns de nós. Como em toda repartição pública queniana, existe uma pessoa para cada função (inclindo pegar o dedo, molhar na tinta e colocar no papel). Existe uma pessoa SÓ para isso, enquanto outra carimba algum papel, outra verifica se o papel foi carimbado corretamente, outra verifica se a digital está correta e outra fica parada olhando (isso é verdade, é sempre assim em todos os lugares aqui). Enfim, a fila para carimbar era mais ou menos. Alguns já estava colocando o dedo no papel e imprimindo suas digitais. Enquanto isso acontecia um de nós resolveu, para agilizar (grave erro), já molhar o dedo na tinta. Então ele pegou os próprios dedos, molhou na tinta e estendeu a mão para a mulher passar pelo papel o dedo dele. Mas a função dela não era passar o dedo já molhado de tinta no papel, mas era MOLHAR O DEDO NA TINTA E PASSAR O DEDO NO PAPEL (em caixa alta para ficar bem claro). Assim que ela viu aquele dedo molhado de tinta (um absurdo sem igual, já estava molhado meu deus do céu!), ela ficou alguns segundo perdida, sem saber o que fazer ou falar. Até que ela perguntou: “O que é isso?”. Meu amigo respondeu: “molhei o dedo já, tó”, estendendo mais ainda a mão para ela. Ela ficou ainda mais perdida, sem saber o que fazer. Então ela começou a atropelar as palavras (nó mental inevitável) e olhou para ele e disse: “não... não... tá errado...”. E meu amigo ainda falou: “mas é só passar o dedo no papel...!”. Mas ela respondeu: “não... não...” (sem saber o que fazer) “você fez tudo errado! Volte lá e comece de novo!”. Então meu amigo teve que LAVAR OS DEDOS de novo para deixar a moça COLOCAR O DEDO NA TINTA (notem que o recepiente que ele tinha usado para molhar os dedos por contra própria era EXATAMENTE O MESMO) E PASSAR O DEDO NO PAPEL, pois essa era a função plena e absoluta dessa perfeita ameba em forma de ser humano.

Pensando bem, até que aqui é divertido...

segunda-feira, agosto 07, 2006

correspondências

Querido,

Liguei para você assim que conquistei San Diego, mas você não me atendeu. Anda fugindo de mim? Você sabe que não posso viver sem você...

Por favor, não me abandone... Não esqueça das suas promessas!

Beijos,
Sharapova

sexta-feira, agosto 04, 2006

más e boas notícias

Eu cheguei um dia na casa dela para dizer tudo. O dilema era como eu devia dizer. Chorando? Rindo? Eu não sabia... Eu ainda mal a conhecia para prever a reação dela diante de tal notícia.

Mas então eu toquei o “foda-se” e fui dizer mesmo assim, sem pensar muito nas conseqüências. Ela me olhava com aqueles olhos brilhantes, não sabendo se chorava ou ria. E eu também não sabia o que sentia naquela hora. Então a reação dela foi inesperada. Ela sentou no sofá, só respirando com o olhar fixo para a TV desligada que estava na outra parede da sala. Eu fiz menção de sair, mas ela pediu gentilmente para que eu ficasse mais um pouco. Sua mãe trouxe alguns biscoitos com um chá, o tempo estava frio e aquilo foi bem confortável. Ela agraceu o meu recado, dizendo que apreciava muito o que eu estava fazendo por ela. Mas eu não tinha feito nada, só falado que Márcia havia me pedido.

Quando percebemos já estávamos falando de outra coisa. Ela até conseguiu sorrir com algumas de minhas brincadeiras. E isso foi uma coisa que ficou na minha mente desde então.