terça-feira, junho 24, 2008

Sopa para dois, por favor

“Às vezes o sol não serve para nada; às vezes o mundo se revela um grande abismo. Do que essas pessoas estão falando? Está frio, meu corpo está ficando quente... E me sinto oco. De que adianta a coberta só para um? E eu, para quem cozinhar; para quem pensar; para quem tocar? De que adianta a lua só para um?”

...

A água ferveu e a sopa quase transbordou. Em silêncio saboreei o grande nada. Antes de dormir dei o último olhar para o telefone, que agora fica na cabeceira da minha cama.

terça-feira, junho 17, 2008

Ribeirão Preto 18 km

De São Paulo para Campinas: discussões de trabalho com o carona. Depois o carro dominado pela minha solidão, pela ansiedade de vê-la e por músicas circulares. Congestionamento na Dom Pedro I, apertando ainda mais o peito.

De Campinas a Limeira pensando nos beijos dela.

De Limeira a Araras imagino o encontro.

De Araras a Leme o toque.

De Leme, passando por Pirassununga, chego a Porto Ferreira com o carro a 110 e a cabeça a 1000.

De Porto Ferreira a Cravinhos já me cansa essa saudade. Tenho que cuidar para não pisar tão fundo. Ela não gosta... “Vou dar um soco na sua cara”. Não consigo deixar de sorrir.

Depois de Cravinhos a placa: “Ribeirão Preto 18 km”, que é quando eu penso que falta mais ou menos 1 hora. Um sorriso sincero e um suspiro. Agora falta pouco. Cada vez menos.

De Ribeirão Preto a Batatais a estrada já está bem vazia, mas minha alma cheia.

O maior trecho é de Batatais a Franca. A cada curva, cada subida, a tentativa de avistar as luzes da cidade-destino. É lá que ela está. E lá que quero estar. E depois, pouco tempo no relógio, mas muito para quem ama, posso finalmente beijá-la naquele corredor escuro, tendo a certeza que é ali que pertenço.

Agora, longe novamente, mal posso esperar para começar tudo de novo.

quarta-feira, junho 11, 2008

"At every occasion I'll be ready for the funeral" (Band Of Horses)

terça-feira, junho 10, 2008

10 anos depois

Ela desceu meio sonolenta a escada ainda com a pele marcada pelo constante toque dos lençóis. O silêncio das manhãs de sábado lhe era agradável. E nada se comparava com uma caneca de leite quente com chocolate em pó logo cedo.

Eles já estavam lá fora e ela os observava. Roupas velhas, mangueira, baldes, sabão e aquela pessoinha toda especial, que mal sabia se segurava o cachorro, cujo nome carinhoso era Schop, ou se fugia para não se molhar. Ele parecia explicar detalhadamente cada passo daquele complexo processo para seu filho. Ela sorriu para sua caneca, pensando o quanto ele conseguia ser adoravelmente chato.

Schop chacoalhou seu corpo, como os cachorros molhados fazem para livrar a água incômoda de seus pêlos, molhando os dois ao mesmo tempo. Deram risada do próprio azar, tentando em vão se protegerem. Ela suspirou suavemente, liberando uma alegria sincera do fundo de sua alma que tomou conta de todo seu corpo. Seria apenas mais um sábado como outro qualquer.

quinta-feira, junho 05, 2008

Como perturbar um travesseiro

A solidão é de uma frieza tão completa que sequer as melhores cobertas são capazes de nos libertar dela. O telefone tocou. Sua voz é incansável para meus ouvidos, um doce do qual nunca enjôo.

Mas nem tudo são flores. A distância é uma falsa amiga: ao mesmo tempo em que permite a liberdade de mergulhar em uma rotina individual, fofoca pertinho de nossas orelhas expondo nossos maiores medos.

- Lembra dele?

- Sim.

- Ele disse que gosta de mim.

- Sério?

- Meio que terminou com a namorada por causa disso...

Uma coisa é dar facadas em uma alma dilacerada pelo desgaste de um amor imaginário, como se rasgam trapos velhos que sequer servem para pano de chão. Outra é tentar perfurar com um alfinete muito fino esse sentimento verdadeiramente puro que só cresce. Acreditem: o segundo dói muito mais.

Maldita distância, resmungando em minha mente semi-acordada. “Ele está perto, você longe”. “Ele entende das coisas que ela fala e você não”. “Não acha que eles são mais parecidos, que ele tem muito mais a oferecer para ela que você?”. E pronto, não basta muito para desligar o telefone com a alegria estampada nos postes da cidade em cartazes de “procura-se, viva ou morta”.

Aquela cama nunca foi tão gelada. E enquanto me viro brigando com os lençóis que sempre vencem, ela é amada por mais alguém. E ele não está a 400 km de distância.