quinta-feira, fevereiro 24, 2005

En Chile...
Estou no Chile. Logo de cara peco desculpas, meu teclado ñ tem teclas para pontuar devidamente as palavras, por isso ñ estranhem. Cheguei em Santiago maravilhado pela visao do Chile, as cordilheiras com neve no topo sao uma visao impressionante. Santiago tem aproximadamente 6,5 milhoes de pessoas, ou seja, eh uma cidade muito grande. Porem, as pessoas andam tranquilas nas ruas. Ñ tive nenhum contato com criminalidade. Fiquei sabendo que a policia chilena eh eficiente por ñ ser corrupta. Isso explicou muita coisa.
A noite de Santiago parace com o Batel de Curitiba. Bares noturnos, alguns com musicas ao vivo, embalam a noite. Fui para uma cidade chamada Valparaiso, mas ñ gostei. A cidade parece desorganizada e suja. Mas valeu a experiencia de descer para o litoral de onibus.
Depois desci para o sul do Chile. Aqui, por ser colonizado por alemaes, lembra muito o sul do Brasil. Porem, a visao eh muito boa, com um vulcao ao fundo e um lago muito lindo chamado Llanquinhe. Pelo menos eu acho que eh assim que se escreve. Dei uma volta pelo lago (que demora umas 2 horas de carro) e subi ateh o Osorno, o vulcao com neve em cima. Mas ñ foi dessa vez que vi neve, pois aqui tambem eh verao (para aqueles que dormiram nas aulas de geografia).
Enfim, muito mais para contar. Mas no momento tenho que comer alguma coisa e depois ver se saio para conhecer melhor Puerto Varas, a cidade chilena mais charmosa que conheci ateh agora... Amanha o destino eh Bariloche.
PS.: Tive que postar alguma coisa do Chile, soh para constar nos arquivos...
Abracos chilenos.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Palestra paralela
Eu digo para as senhoras e os senhores que as linhas paralelas não se cruzam nunca. Isso pode até parecer desnecessário de ser dito, ainda mais no meio extremamente culto no qual me encontro. Mas, senhoras e senhores, não se esqueçam nunca que o pedantismo intelectual é um dos maiores pecados que algum ser humano pode cometer. E digo isso, pois todos concordaram comigo, balançando a cabeça, quando eu mencionei a mentira que “as linhas paralelas não se cruzam nunca”.

Não me olhem com esse olhar de espanto. Eu sei que o vício é algo extremamente cativante. E noto que suas mentes estão viciadas nos jargões usuais de nossa mais medíocre matemática. Eu afirmo que as retas paralelas se cruzam sim. E isso não pode ser negado. Qualquer matemático concordaria comigo. E suas mentes perguntam: “Mas como?”. E eu respondo que as retas paralelas se cruzam num ponto singular, localizado no infinito.

Obviamente toda essa linguagem não deve ser nada agradável para vocês, ainda mais quando as senhoras e os senhores não vieram até aqui para me ouvir sobre retas paralelas e pontos de encontro. Mas, dentro desse ambiente, se encontra a mais bela verdade humana. Obviamente revelada nesse “simples postulado” matemático.

Ao caminhar por uma rua damos a nós mesmos um determinado objetivo. Esse objetivo é conhecido como destino. Por exemplo, eu vim de casa até aqui e tracei, mentalmente, um caminho que tomaria para que chegasse até aqui. A escolha do caminho depende de alguns fatores. Hoje, por exemplo, eu queria chegar o mais rápido possível. Portanto tomei o caminho mais curto que conheço. Amanhã, talvez com mais tempo disponível, eu resolva aumentar o meu caminho para passar em uma determinada loja de doces (doce é o meu fraco), e assim satisfazer esse meu capricho. Nada impede também que um terceiro caminho, diferente dos outros dois, seja escolhido por ser mais bonito e agradar melhor a vista.

As senhoras e os senhores vão concordar que todos os caminhos possíveis citados não têm nada em comum com retas paralelas. Obviamente eles não são paralelos no sentido matemático do termo, mas são distintos. Porém, as paralelas matemáticas se encontram no infinito, enquanto os meus caminhos tortuosos sempre acabam no mesmo destino. No exemplo citado esse destino é essa sala de palestra. Tudo isso pensado de maneira “plana”, como obviamente todos vocês estão fazendo.

Senhoras e senhores, afirmo que os caminhos tomados por mim são mais parecidos com as paralelas matemáticas do que qualquer outra coisa. Sim, meu destino é o mesmo, o ponto onde quero chegar. Mas isso só é verdade pensando em apenas um “segmento” do caminho que escolhi, por exemplo, de casa até essa sala de palestra. Para esse “segmento” podem ser estabelecidos limites bem definidos, assim como para qualquer segmento de reta na matemática. Porém, senhoras e senhores, nossos caminhos não são apenas “segmentos”, mas sim retas infinitas, como na física, e não na matemática.

É inevitável que antes de sair de casa eu tenha feito outras coisas, como uma boa refeição e a leitura matinal do meu jornal favorito. Essas atividades fazem parte do caminho que escolhi seguir, da mesma forma que outros pontos fazem parte da reta antes dela passar por um ponto convencionado como “início”. Somos, isso sim é verdade, uma conseqüência de ações que sequer imaginamos. Pessoas que virão depois da gente podem surgir ou não de acordo com decisões que tomamos hoje. Cada suspiro, cada passo, cada escolha muda de maneira drástica o futuro.

Senhoras e senhores, não confundam minhas declarações com o famoso “efeito borboleta”. Essa teoria, por mais bela que seja, não é dotada de associações matemáticas e físicas. A minha, em contrapartida, pode ser muito bem explicada usando elementos dessas matérias.

Concordamos, pois, que nossas ações nos levam a caminhos distintos. Uma esquina, por exemplo. Quando eu estou no cruzamento entre duas ruas e posso tomar qualquer uma delas para chegar ao meu destino, eu não vou chegar da mesma forma. Tudo será diferente, cada caminho, mesmo que seja um simples desvio, já é uma paralela àquele outro caminho que poderia ter tomado.

Mas, usualmente achamos que as retas paralelas não se encontram nunca. No entanto, como devo muito bem lembrá-los, as retas paralelas se encontram no infinito. Da mesma forma que nossas ações irão construir um mundo diferente no futuro, ele inevitavelmente irá se encontrar em um ponto no infinito com as outras ações e escolhas que poderíamos ter tomado. E esse ponto, senhoras e senhoras, eu deixo em aberto na minha explicação, pois já passou da hora e eu tenho outros compromissos. Muito obrigado.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Eu sempre imaginei que as coisas ficariam ruins. Fui preso e rasparam o meu cabelo. Eu odeio arrumar o meu cabelo, por isso consegui dormir tranquilamente na cela onde jogaram minhas roupas no chão exclamando: "Aqui a parada é outra!". Mas eu sabia que meu cabelo ia crescer, como acontece sempre. Nos dias que se seguiram eu procurei fazer amizades, conheci grupos, facções e marginais solitários. Enfim, eu estava no meu meio e feliz. Mas meu cabelo não parava de crescer.
Indaguei meus colegas de presídio a respeito do cabelo, e todos falaram que cada um se vira sozinho com isso. O presídio não era grande. Resolvi me virar. Em uma das visitas pedi para minha mulher trazer uma máquina para raspar o cabelo, pois eu odeio arrumar cabelo. Ela, chorando a minha sorte, disse que faria de tudo para aliviar o meu sofrimento. Comparado com viver ao lado dela eu estava no paraíso. Dias depois recebi a máquina, com grande alívio pois o meu cabelo já estava me incomodando.
Os primeiros cortes foram um desastre. Não conseguia olhar no espelho e manusear a máquina ao mesmo tempo. Por isso usava sempre boné logo depois dos cortes, mas depois acostumei com a situação, pois meus colegas de presídio tinham cabelos piores que os meus.
O tempo passou rápido e eu peguei prática. Já tirava algumas pontas, inclusive de trás, utilizando jogo de espelhos, com uma tesoura. Meu corte de cabelo começou a fazer sucesso. Nos dias de visita eu não era visto como um presidiário, pois meu corte de cabelo parecia com as pessoas de fora. Foi só nessa situação que eu percebi como era fácil notar "pela cara" quem era presidiário ou não.
Alguns colegas de crime, como carinhosamente chamávamos a nós, marginais, pediam para eu cortar seus cabelos. Fazia essa tarefa com grande prazer, pois ao mesmo tempo que é bom ser útil no presídio nunca é demais aprender um novo ofício. Também fiquei bom no corte de terceiros, e a minha criatividade era admirada. Um de meus colegas sempre pedia algo diferente, e sempre deixava o cabelo crescer bastante para que eu pudesse fluir com minha arte livremente diante da abuntância de matéria prima. Sempre satisfeitos.
Um dia o chefe de uma respeitada facção me chamou para a cela dele. Fui, com o rabo entre as pernas, pois poucos saíam de lá vivos. Mas eu já tinha me mente as suas intensões: cortes de cabelo. Não deu em outra, com tesoura e pente na mão eu fui imediatamente intimado a cortar o seu cabelo, sob a pena de morte caso cometece algum erro. Tremendo, cortei o cabelo dele. Tremer, para os barbeiros, é um péssimo negócio. Mas, sabendo de tudo isso, resolvi aproveitar a fragilidade física e criar um "new look", que, na cabeça do chefão, poderia me promover. Depois de pronto, forneci o espelho sujo para ele se ver. Ele viu, sorriu e aprovou o novo penteado que, como previa, foi um sucesso entre os presos.
Era só alegria, fui até mesmo chamado para cortar o cabelo do diretor do presídio. Os guardas sorriam para mim e eu ganhava cigarros e favores sempre. Como eu não fumava, e não fumo, poderia ser considerado um cara "rico". Ganhei confiança e os chefes das quadrilhas, mesmo opostas, sempre pediam conselhos e orientações. Fui responsável por várias mortes, e usava a minha influência para atingir o topo.
Criei a minha própria facção, que era neutra. Muitos aderiram, e as demais facções não "batalhavam" antes de pedir a minha permissão. Abri uma "escolhinha", onde passei a ensinar o meu ofício para os mais jovens. E assim se passaram os 20 anos que eu tinha que cumprir.
Planejava uma saída em grande estílo. Organizei facções e presos influentes numa grande discussão, exatamente no mesmo dia que ia ser libertado. Dei as costas, joguei todos os cigarros fora e apreciei a liberdade. Atrás de mim deixei um presídio em desordem, onde eu era respeitado e amado, e a carnificina naquela noite foi inevitável. Sei que perdi muitos amigos, mas o fiz apenas para deixar marcado que, do lado de fora, realmente a parada é outra.

segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Anorexia LTDA.

Quando eu cheguei na Planície das Bestas notei que algo poderia dar errado. Sessenta e três crianças judias cantavam orações budistas a respeito dos costumes cristãos, exaltando ao máximo Julia Roberts. Gritei para as sessenta e três crianças judias: “Vamos para a Planície dos Bravos!”. Quarenta dias e trinta e nove noites de caminhada pelo deserto da Bulimia. Chegamos, eu e as sessenta e três crianças judias, na Planície dos Bravos, sempre cantando orações budistas a respeito dos costumes cristãos, exaltando ao máximo Julia Roberts. Nos curvamos diante do ícone máximo de nossos costumes: Os Animaniacs. As sessenta e três crianças judias não paravam de entoar canções, exaltando ao máximo Julia Roberts. Levantei do meu altar, onde nenhuma virgem foi sacrificada, e olhei para as sessenta e três crianças judias que não paravam de cantar orações budistas a respeito dos costumes cristãos e disse: “Agora é a vez do Bob Esponja!”.

domingo, fevereiro 13, 2005

Um brinde!

Levantei a cabeça e me olhei no espelho. Um bêbado deprimido. Mais pela esperança morimbuda que pelo álcool. Os olhos vermelhos e a vontade de quebrar tudo o que vem pela frente. Os braços dela em torno de outro. Outros braços em torno dela. E eu? Abraçado na pia de um banheiro sujo, que tinha um cheiro azedo, lamentando saber que certas coisas em mim mesmo não podem ser controladas. E ela foi uma delas.

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Do You Love Me?

A vida continua. Depois de muito pensar a respeito, cheguei a conclusões nada agradáveis. Não sei se você me entende... Não, não estou te tirando de burra. Acho apenas que você não quer entender algumas coisas. Talvez isso seja um sinônimo de burrice mesmo... Mas não se preocupe, eu sei como se sente. No fundo não, apenas tento compreender. Acho até mesmo deprimente... Suas relações passageiras, seus jogos sujos brincando com sentimentos alheios. Quase caí no seu jogo. Mas agora tudo é diferente. Não vejo mais a garota simpática que você finge ser. Agora apenas vejo sua vida podre, contaminada por uma personalidade que consome as maiores futilidades disfarçadas de paixão. O consolo é que um dia seu rostinho bonitinho, assim como seu corpo, apodrecerá. Finalmente combinando com tudo aquilo que você realmente é.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Noite de carnaval

Um lugar escuro e barulhento. Muitas pessoas passando... Todas elas com rostos familiares. Tudo muito claro de repente, mas depois mais escuridão. Nada a declarar. Tudo muito rápido, tudo muito lento. Solto e leve. De repente ela olha para mim. Não digo nada, ela também não. Depois ela sorri, e pergunta se eu quero segurá-la em meus braços e fazer ela girar. Tudo muito claro agora. Não há mais ninguém por perto. O campo está florido e o sol radiante. A noite ficou escura naquela mesa de bar, onde eu a encontro por acaso e a tiro para dançar. Depois eu dou um beijo nela... Um beijo que dura milênios. E ela sorri, e diz que também queria. Barulho, muito barulho... Na minha mente. Sozinho na minha cama em apenas mais uma noite de carnaval.