segunda-feira, junho 26, 2006

quando o papa chegou no inferno…

- Deves respeito! Sou o Satã! O único que teve coragem de se rebelar contra a força poderosa daquele que tudo domina! Não aceito, não aceito! Quero criar o mundo a minha maneira...

- És um pífio! És o mesmo que nada! Não mereces respeito em lugar algum onde o sol nasce! Eu, leviano por ser humano, sei muito bem o porquê rebelastes!

- O que dizes?

- Rá! Como se não soubesses... Tú, mísero ser, amou como ninguém aquele o qual rejeitas agora! És a escória que o amor em demasia produziu! Não podias suportar a devoção dos outros anjos e por isso caíste em desgraça...

- Calúnias! De fato concordo que o amor pode se transformar em ódio, mas teu viés é distorcido...

- Mas a bíblia...

- O que me falas? As páginas do livro sagrado não servem para embrulhar o fumo de pior qualidade! As palavras dos apóstolos não são mais belas que a maldição lançada por um marinheiro! Literatura de bueiro, é o que vos digo!

- Queimarás ainda mais por proferir tais palavras, caro senhor...

- E lá sabes o que é queimar? Disso eu cá entendo muito bem! Não passa de um padreco miserável, dividido entre o aguardente e a devoção a um deus que sequer pode amar alguém de verdade...

- Ele ama a todos da mesma forma!

- E por amar da mesma forma não ama ninguém! Como ele, todo poderoso, rei do universo e de toda a sabedoria, pode entender o que é amar sem senti-lo? Como, em nome dos trovões, em nome dos dilúvios, em nome de todo o sofrimento terreno, pode compreender o que se passa em um simples coração quando ele mesmo não o tem?

- E vós...?

- Não foi amor em demasia, como livros de donzelas mal amadas dizem ser! Foi revolta por existir no mundo algo que nem mesmo seu criador, por pura falta de caráter, sequer conhece...

sexta-feira, junho 23, 2006

motivos da minha solidão

Eu já estava de saco cheio daquela menina sentada na minha frente falando sem parar. Ela tinha um perfume forte, os lábios pintados e se vestia com cuidado. Eu já tinha matado a coitada mentalmente milhares de vezes. Mas, por estarmos em um lugar público, resolvi me conter mais do que o normal e enfretar com “dignidade” toda aquela babaquice.

Mas ela começou a me elogiar. Ela falou que eu tinha os olhos bonitos, um sorriso encantador e que tinha adorado me conhecer. Eu não respondi, não tinha ânimo. Aquele papo só me dava ânsia. O jeito dela, meigo, fazia até a última célula do meu estômago se revirar. Era nojento como ela deixava os cabelos caídos para um lado, mexia o café com um sorriso bobo nos lábios e me olhava como se quisesse dizer alguma coisa. E eu percebi logo que ela queria dizer algo mesmo, mas eu nem perguntei nada, com medo do que ela falaria.

E meu medo se tornou realidade. Ela disse “eu gosto de você”. E eu fiz cara de desfeita. Até aqui tudo bem, ela não tinha sido a primeira, mas ela começou a me dar uma lição, como se eu precisasse de uma. Falou que eu era muito fechado, muito exigente, muito isso e muito aquilo. Como se eu me importasse com a opinião dela. Mas ela foi mais longe, ela declarou que queria me “ajudar”. Sorri e falei que era melhor não me ajudar. Mas ela não parava, e falou que o primeiro passo para eu gostar dela também era eu notar as suas coisas bonitas. Eu falei que ela não tinha nada de bonito (e não tinha mesmo), mas ela estava disposta a tentar de tudo o possível. E isso é um grave erro quando se lida com uma pessoa como eu. Ela me disse para a elogiar, uma vez só, pois dessa forma eu teria que procurar pelas suas qualidades.

Achei a idéia interessante, porém ridícula. Ela reamente era muito imbecil e eu já estava com ódio dela. Sorri e fiquei olhando para ela, mexendo meu café quente. Cabelos arrumados, perfume forte, bem vestida... Ela era uma garota que se sentia bem com o próprio físico e cuidava bem dele. Então eu falei que ela era como um flor... E ela sorriu, sorriu feito uma idiota. E eu continuei: “e eu acho que todas as flores são como putas, que fazem de tudo para parecerem bonitas para atrair mais insetos, ou homens”. Claro que o rosto dela mudou totalmente. E por causa do espanto dela eu finalmente me senti bem por estar lá.

Mas ela não desistiu (as pessoas são tão burras). Continuou falando que eu não podia ser daquele jeito, que eu tinha que mudar, que eu isso e eu aquilo... Voltei a ficar nervoso com aquele papo escroto tirado de um péssimo livro de auto-ajuda. Levantei, com o café na mão, e olhei para ela e disse: “quer saber? Vá tomar no cú!”. Então joguei o café quente no rosto dela, que gritou de dor no meio da cantina. Peguei meu casado que estava pendurado na cadeira e fui embora, pois já estava atrasado para minha aula.

quinta-feira, junho 22, 2006

motivos da minha solidão

Ela havia olhado para mim a noite toda. Como se eu fosse uma obra de arte encostada na parede de um museu imundo. Aquele olhar mole era patético, eu sabia muito bem disso. Mas o problema é que ela não sabia a minha opinião formada. Ela e o desejo: coisas que nunca se misturariam. Ignorei enquanto pude.

Porém, assim que eu encostei meus cotovelos no balcão do bar, ela cutucou tímida meu ombro direito. Virei para ela, sentindo aquele asco que sempre sinto quando meninas idiotas tentam chamar a minha atenção. O olhar dela era uma mistura de timidez e esperança. Seu sorriso me deu vontade de vomitar. Não era feia. Aliás, nunca achei nenhum menina feia, mas algumas são incompreendidas esteticamente. Mesmo assim esse não era o caso dela.

Ela disse “oi”. É sempre a mesma coisa, sempre o mesmo “oi” que soa doce na voz feminina. Naquela hora eu senti um frio na minha barriga, mas me controlei para não fazer nada. Mas confesso que estava em uma dura batalha, ela merecia... Bastava olhar para o seu rosto e perceber o quanto aquela situação era imbecil. Será que só eu percebia isso?

De qualquer forma eu ignorei aquele “oi”. Mas ela não desistiu. E aqui que os problemas começaram... Ela encostou a mão no meu braço direito, e eu olhei sério em seus olhos. Ela disse, quase no meu ouvido, que gostaria de me conhecer melhor, perguntando logo em seguida o meu nome. Então comecei a tremer e puxei meu braço falando para ela não encostar mais em mim. Ela arregalou os olhos, pois eu estava muito sério. Mas ela logo sorriu, provavelmente achando se tratar de uma simples brincadeira (as pessoas são tão burras) e logo colocou sua mão sobre meu braço novamente. E aquilo foi o fim!

Puxei ela pelo braço, firme, mas com cuidado para não machucá-la. Fui caminhando para o lado de fora daquele clube e ela não ofereceu resistência. Ela falava no meu ouvido para eu ir com calma, que ela tinha que avisar as amigas, que tinha que pegar a bolsa e me perguntava para onde eu a estava levando, com um leve sorriso no rosto. Me recusei a comentar qualquer coisa. E o que me dava mais nojo era o grau de excitação que saia da voz dela.

Chegando do lado de fora eu encontrei um beco escuro onde apenas alguns carros estavam parados. Ninguém à vista, o que era perfeito e exatamente o que eu queria. Puxei o braço dela com força para minha frente, e ela teve que dar três ou quatro passos apressados para não cair, dizendo para eu me conter que aquela noite ela seria minha. Não aguentava mais! Coloquei a mão no meu cinto, e ela sorriu dizendo “sempre quis fazer isso no meio de uma rua escura”. Tirei meu cinto e dobrei ele no meio, segurando a ponta oposta de onde estava a fivela. Com um movimento só, a fivela do meu cinto encontrou aquele rostinho, provavelmente deixando a marca e tirando um pouco de sangue. Um golpe perfeito. Exatamente como eu queria. Ela caiu no chão, gemendo de dor, tentando gritar, mas não conseguindo. Então ela colocou a mão no rosto, provavelmente bem no local onde eu a tinha golpeado, começando a chorar e a perguntar os “porquês” (é sempre a mesma coisa). Mas eu não tinha terminado. Imediatamente depois dei um chute, com toda a força, no lado do seu corpo. Ela quase voou, caindo de costas no chão e se contorcendo de dor. Então dei outro chute, tão forte quanto o primeiro, no outro lado. E depois mais um chute no rosto. Ela não conseguia falar, chorava e gemia. Tudo tinha sido tão rápido que nem mesmo gritar ela conseguiu. E só depois disso é que consegui me acalmar e me sentir feliz novamente.

Virei de costas e fui caminhando. Então ouvi ela perguntar o que tinha feito, com uma voz rouca e chorosa. Sorri, pois a imbecilidade dela era incrível! Eu certamente não tinha dado tudo o que ela merecia. Voltei, eram apenas alguns passos. Cuspi sobre ela e disse: “eu falei para não encostar em mim!”, virando de costas novamente e saí de uma vez daquele lugar fedendo um perfume enjoativo, provavelmente dela.

quarta-feira, junho 21, 2006

explicar o impossível

Ela é como um raio de sol que entrou pela janela do meu quarto em um domingo de manhã, tirando o meu sono com ausência de sonhos. Ela chegou como quem não queria nada, foi tomando espaço aos poucos. Eu estava despreocupado, não tinha nenhuma vontade de amar alguém novamente... “É sempre igual: lágrimas”, pensava eu sozinho em meu quarto escuro. Mas aos poucos essa barreira foi vencida. Percebi a minha ignorância diante da simplicidade das palavras dela, diante do seu sorriso, diante do seu olhar tímido, porém certeiro. Descobri que sou um bobo, por achar que tudo está em um lugar fixo. Entendi a minha falsa alegria e agora eu sei que nunca mais quero isso novamente. Se ela soubesse o quanto é maravilhosa, o quanto é importante, talvez apenas me abraçasse e beijasse meus lábios, dizendo para eu não me preocupar com nada, que ela sempre estará comigo. E isso ela faz todas as noites, antes de eu adormecer e sonhar como nunca sonhei antes...

E o melhor de tudo é que ela continua aqui. Cada dia mais perto, cada dia mais especial. Perfeita e única. E, por causa dela, eu percebi que estava errado durante muito tempo...

Obrigado

terça-feira, junho 20, 2006

rev

Para ser mais exato o problema sempre foi comigo, não é? Eu sempre fui o errado, eu sempre falei as merdas, eu que nunca te entendi, eu isso e eu aquilo. Uma lista interminável de características que me fazem ser o mais desprezível de todos o caras que já cruzaram o seu caminho. Infelizmente eu sei de tudo isso. Mas eu não posso fazer nada. A minha decadência já é certa, o meu destino é ser esse monte de nada e as minhas palavras não significam porra nenhuma!

Ilusão acreditar que será diferente. Nunca é. Quero sumir de vez...

segunda-feira, junho 19, 2006

eu acredito em duendes

Todo esse pseudo-sofrimento que engloba até mesmo os mais íntimos segredos mentais, guardados atrás de sete chaves muito bem colocadas sobre as prateleiras da ambiguidade de nossas personalidades, aliados com um cinismo decadente que está presente nas ruas do mundo inteiro, resulta em péssimas analogias com um tempo que já foi e com um tempo que nunca será, gerando, com isso, uma falsa esperança no meio do puro nada. Contudo, mas não obstante, o palácio em ruínas dos presos em nós mesmos, que nada mais é do que nós mesmos, fecha suas portas para tudo aquilo que queremos ser diante daquilo que podemos ser. E, no fim, apenas mais uma orquestra de instrumentos desafinados, desafiando até mesmo a mais pura refeição sonora que, em dias antigos, já foi apreciada. Não mais, caro amigo.... Não mais!

quarta-feira, junho 14, 2006

motivos da minha solidão

Eu estava quase bêbado naquele lugar. Era uma casa noturna, com música eletrônica e várias pessoas dançando e bebendo. Eu já tinha bebido as minhas em casa, antes de sair, como sempre faço. Naquele momento eu já estava um pouco alterado, mas ainda não o suficiente para perder a noção das coisas.

Então ela veio falar comigo. Cheirava bem, tinha um perfume suave. A música batia alta no ouvido por isso ela quase gritava na minha orelha. “Qual seu nome?”, “Tá sozinho?”, “Tem namorada?” e mais outras perguntas imbecis que não me lembro mais. Não me dei ao luxo de respondê-la. Apenas olhei para o rosto dela, próximo do meu, e ela sorria, provavelmente na mediocre tentativa de se passar por simpática. Ela era bonita. Então eu a segurei pela cintura, ela deixou. Eu fui aproximando meu rosto no dela e ela fechou os olhos. Eu fechei os meus. Com um movimento rápido dos músculos internos do meu rosto (e garganta), juntei a maior quantidade de catarro que eu podia e, assim que cheguei bem perto do rosto dela, cuspi tudo. Aquela gosma meio verde amarelada, provavelmente quente, escorria lentamente em seu rosto, logo abaixo do olho. Mas outros pingos estavam por toda parte daquele rostinho... E ela tinha medo de abrir os olhos e ver o que realmente tinha acontecido. Então, pela primeira vez naquela noite, consegui sorrir e sentir um prazer incrível dentro de mim, quase um orgasmo.

Mas é claro que não ficou nisso. Ela logo se afastou de mim, de maneira brusca (as pessoas são tão estúpidas) e abriu um olho, o do lado oposto do rosto onde o catarro verde amarelado estava grudado. Ela colocou a mão, e aquilo foi a melhor cena da noite. Entre seus dedos escorria um pouco daquele muco, e a cara dela alternava de “raiva” para “nojo” e vice-versa. Soltou um grito quando viu parte dos seus dedos verde, provavelmente sentindo a temperatura do cuspe e vendo também o fio de catarrato que conectava seu rosto e sua mão. E então, olhando para mim (finalmente) ela me perguntou indignada, quase chorando: “porque fez isso?”.

Apenas para deixar de ser otária.

terça-feira, junho 13, 2006

mestres da ilusão

“Eu sabia que um dia isso ia acontecer...”
E ele se sentou no segundo degrau da porta da sua casa. Colocou a testa no joelho e abraçou as pernas, encolhendo-as para bem próximo do corpo. Parecia que podia sentir o cheiro dela... Parecia que podia vê-la. E como ele queria estar errado! Como...!

Alguns minutos se passaram e a noite chegou. O céu estava limpo, cheio de estrelas e a lua brilhava como nunca. Mas não havia música em nenhum lugar...

sexta-feira, junho 09, 2006

the kenyan way

É sempre assim que acontece quando estamos morando em outros país. Você sente falta da sua casa, dos seus familiares e amigos. Sente falta do sol, da noite, da comida, da língua e de tudo aquilo que você está acostumado. No começo tudo é novidade, tudo é maravilhoso. Depois que a rotina toma conta, tudo que fica são apenas memórias de uma época que era boa e as esperanças esmagas pela incerteza do futuro. Assim a gente perde um pouco a noção do que nós somos... E na vã tentantiva de amenizar o sofrimento a gente muda. Não só a maneira de pensar, mas até mesmo o próprio físico.

E enquanto isso o mundo continua girar como se nada tivesse acontecendo...

terça-feira, junho 06, 2006

fim de aula de filosofia

Letícia saiu tropeçando da pirâmide. Sua cabeça só dava voltas e mais voltas... Ela ainda não podia acreditar que sua tia estava por trás do assassinato do Carlos Eduardo, assim como o Barão D’Acord. E ela até tinha uma idéia do que encontraria quando cavasse no lugar marcado. E foi exatamente do jeito que ela esperava.

Fim

segunda-feira, junho 05, 2006

o lado negro da lua

“Aquela pirâmide do Egito, às 15:32 da tarde da próxima quarta-feira, sua ponta fará uma sombra no chão. É lá que deverá cavar...”. Essas foram as últimas palavras do Professor Leopold antes de morrer com um tiro dado por um misterioso vulto naquele pub londrino. Letícia não teve tempo de salvar Leopold, que pulara em frente da bala destinada a ela. Ele havia salvado sua vida... Tudo a pedidos de Carlos Eduardo. É como se ele não tivesse morrido, prevendo todos os passos que Letícia daria e sempre estando presente para ajudá-la. Já eram 15:25, daqui a pouco a sombra chega no lugar onde está enterrada todas as respostas.

Letícia começou a cavar onde a sombra havia apontado no horário determinado. Mas depois de tantas mortes ela resolveu fazer seus preparativos, pois sabia que mais cedo ou mais tarde tentariam matá-la novamente. Então ela ouviu cavalgadas se aproximando. Olhou em direção ao bando e ouvi vários tiros sendo disparados contra ela, alguns quase chegando a atigir seus pés. Correu e entrou na pirâmide. Ofegava, mas estava confiante que a seguiriam. Era exatamente isso que ela queria.

domingo, junho 04, 2006

conclusões finais sobre o pôr-do-sol

“Eu sabia que você me encontraria, Letícia”. Era apenas uma voz que saía da escuridão. Letícia já tinha desvendado aquela pista, e agora ela estava naquele lugar sombrio atrás da casa do Barão D’Acord. Não tinha sido fácil, quase havia sido morta por um misterioso vulto que insistia em atirar contra ela naquele momento final, quando ela caminhava no meio do bosque, já com a carta na mão que Carlos Eduardo havia enterrado no pé daquela árvore. “Você é mais forte do que pensei”. E a voz soava feminina, não era a mesma que havia entrado em contato por telefone, mas talvez fosse a mando da dona dessa voz. E Letícia não conseguia dizer quem era. “É... Eu sei que você tenta saber quem eu sou, mas não tem jeito. Você não me conhece e eu não te conheço, Carlos Eduardo sabia que assim seria mais fácil transmitir o recado que ele me deixou caso ele morresse. E eu sei que nós duas corremos risco de vida, por isso tomei tantas precauções e você teve que desenterrar essa carta que provavelmente está segurando agora”. E Letícia realmente estava. “Mas não fale nada. O recado é simples: essa carta está decodificada, e somente o Professor Leopold sabe interpretá-la”. Carlos Eduardo já havia mencionado a existência desse professor, com quem costumava tomar drinks na noite fria de Londres, quando estudava lá. “Ache-o e saberá de tudo, é apenas isso que tenho para te dizer”. No outro dia, Letícia já embarcava para Londres.