sexta-feira, junho 23, 2006

motivos da minha solidão

Eu já estava de saco cheio daquela menina sentada na minha frente falando sem parar. Ela tinha um perfume forte, os lábios pintados e se vestia com cuidado. Eu já tinha matado a coitada mentalmente milhares de vezes. Mas, por estarmos em um lugar público, resolvi me conter mais do que o normal e enfretar com “dignidade” toda aquela babaquice.

Mas ela começou a me elogiar. Ela falou que eu tinha os olhos bonitos, um sorriso encantador e que tinha adorado me conhecer. Eu não respondi, não tinha ânimo. Aquele papo só me dava ânsia. O jeito dela, meigo, fazia até a última célula do meu estômago se revirar. Era nojento como ela deixava os cabelos caídos para um lado, mexia o café com um sorriso bobo nos lábios e me olhava como se quisesse dizer alguma coisa. E eu percebi logo que ela queria dizer algo mesmo, mas eu nem perguntei nada, com medo do que ela falaria.

E meu medo se tornou realidade. Ela disse “eu gosto de você”. E eu fiz cara de desfeita. Até aqui tudo bem, ela não tinha sido a primeira, mas ela começou a me dar uma lição, como se eu precisasse de uma. Falou que eu era muito fechado, muito exigente, muito isso e muito aquilo. Como se eu me importasse com a opinião dela. Mas ela foi mais longe, ela declarou que queria me “ajudar”. Sorri e falei que era melhor não me ajudar. Mas ela não parava, e falou que o primeiro passo para eu gostar dela também era eu notar as suas coisas bonitas. Eu falei que ela não tinha nada de bonito (e não tinha mesmo), mas ela estava disposta a tentar de tudo o possível. E isso é um grave erro quando se lida com uma pessoa como eu. Ela me disse para a elogiar, uma vez só, pois dessa forma eu teria que procurar pelas suas qualidades.

Achei a idéia interessante, porém ridícula. Ela reamente era muito imbecil e eu já estava com ódio dela. Sorri e fiquei olhando para ela, mexendo meu café quente. Cabelos arrumados, perfume forte, bem vestida... Ela era uma garota que se sentia bem com o próprio físico e cuidava bem dele. Então eu falei que ela era como um flor... E ela sorriu, sorriu feito uma idiota. E eu continuei: “e eu acho que todas as flores são como putas, que fazem de tudo para parecerem bonitas para atrair mais insetos, ou homens”. Claro que o rosto dela mudou totalmente. E por causa do espanto dela eu finalmente me senti bem por estar lá.

Mas ela não desistiu (as pessoas são tão burras). Continuou falando que eu não podia ser daquele jeito, que eu tinha que mudar, que eu isso e eu aquilo... Voltei a ficar nervoso com aquele papo escroto tirado de um péssimo livro de auto-ajuda. Levantei, com o café na mão, e olhei para ela e disse: “quer saber? Vá tomar no cú!”. Então joguei o café quente no rosto dela, que gritou de dor no meio da cantina. Peguei meu casado que estava pendurado na cadeira e fui embora, pois já estava atrasado para minha aula.

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