segunda-feira, agosto 04, 2008

Sei que não sou digno de desculpas... Talvez não seja digno de nada mais que pena.

Pena de ser um idiota, pena de ser um otário, pena de não saber tomar cuidado com todas as pequenas coisas. Simplesmente desprezível... Não me surpreenderia me tornar imortal, rejeitado pelo Céu e pelo Inferno, simplesmente esquecido pelos deuses e demônios... Uma alma que ninguém quer, nem mesmo eu.

Tudo permanece em um breu, e a única coisa nítida é sua imagem. Tão linda, tão perfeita, tão amável. Mas a cada tropeço, a cada transtorno, lágrimas caem que eu sou obrigado a vê-la dar um passo para trás todos os dias. Não sou bom com as palavras, não sou bom cozinheiro, não sou bom dançarino... Só sou bom em ser eu mesmo, um ponto insignificante no mundo que não sabe que existo e não sentirá minha falta.

Sequer sou digno de raiva.

Agora só me resta seguir a mesma rotina, carregando em meus ombros a certeza de que tudo de ruim é culpa minha.

terça-feira, julho 29, 2008

a valsa

Existe muita coisa boa na vida, mas nada é tão bom quanto a observar recortando fotos de jornal. Meu olhar era um criminoso algemado pelos traços do rosto dela. Minha atenção sempre foi soterrada pelo jeito que ela contrai os lábios e quase cerra os olhos diante de notícias estranhas. Sou apaixonado pela beleza simples, pela personalidade encantadora e espontânea. Morro de ciúmes do seu passado.

- Dança comigo?

Como dizer não a uma valsa silenciosa no meio da sala de estar? Podia sentir seu corpo, o toque de nossas peles. Minha vida ao lado dela ainda por fazer, como minha barba.

- Gosto tanto de você...

E olhei para aqueles olhos redondos. Seus lábios estavam graves, seu nariz tocou meu rosto e pude sentir sua respiração quente em meu pescoço.

Gostaria que ela soubesse apenas o básico, apenas o quanto ela é importante. Não a amo somente de coração, não sinto apenas minhas batidas cardíacas acelerando. É muito mais que isso... É do fundo do estômago, algo que sai de todos os lados da minha barriga, sobe pelo meu corpo fazendo eu sentir frio em toda extensão de minha pele para só então acelerar meu coração que, por fim, me faz suspirar imaginando o futuro ao lado dela. A conseqüência disso tudo foi duas lágrimas, uma para cada olho.

- Não ligue, é de felicidade...

Ela me abraçou forte, suspirando como eu.

- Como te amo... Te amo tanto!

E nem mesmo o beijo longo e salgado pôde colocar fim nessa valsa silenciosa... Essa valsa que nunca vai terminar.

quinta-feira, julho 10, 2008

Ela sabe nada

O toque da pele dela parece um veludo raro, coisa que só explorador que não teme a morte conhece. Seus lábios são dois convites ao inferno: quentes e seduzindo minha alma para a perdição. E gosto muito de sentir sua voz trepidando em meus ouvidos, com uma harmonia digna de invejar os mestres clássicos.

- Você não fala comigo...

Em tom triste, em tom de pedinte. Como se fosse fácil demonstrar o quanto se ama. Um sorriso pode parecer forçado. Palavras de afago são como grãos de areia em um deserto com horizonte imutável. Não quero dizer coisas simples, coisas que ela já está casada de saber. Não quero que tudo seja representado por clichês. Meu silêncio não é pura distração, mas uma verdadeira contemplação pela pessoa maravilhosa que ela é.

A quietude dela cortou meu coração naquela estrada escura. É tão difícil assim de entender? Será que meu olhar brilhante, meu sorriso sincero e meus toques suaves não dizem nada? E meu crime é não demonstrar o mínimo de atenção, por prestar muita atenção na estrada escura para que nada de ruim aconteça e, enfim, ela possa ter toda a atenção do mundo para sempre...

- Você não me irrita. É mais fácil você me irritar quando está quieta que cantando em meu ouvido.

Assim voltei para casa e lembrei do quanto é bom procurar as estrelas que os olhos dela apontam. Ah se ela soubesse...

terça-feira, junho 24, 2008

Sopa para dois, por favor

“Às vezes o sol não serve para nada; às vezes o mundo se revela um grande abismo. Do que essas pessoas estão falando? Está frio, meu corpo está ficando quente... E me sinto oco. De que adianta a coberta só para um? E eu, para quem cozinhar; para quem pensar; para quem tocar? De que adianta a lua só para um?”

...

A água ferveu e a sopa quase transbordou. Em silêncio saboreei o grande nada. Antes de dormir dei o último olhar para o telefone, que agora fica na cabeceira da minha cama.

terça-feira, junho 17, 2008

Ribeirão Preto 18 km

De São Paulo para Campinas: discussões de trabalho com o carona. Depois o carro dominado pela minha solidão, pela ansiedade de vê-la e por músicas circulares. Congestionamento na Dom Pedro I, apertando ainda mais o peito.

De Campinas a Limeira pensando nos beijos dela.

De Limeira a Araras imagino o encontro.

De Araras a Leme o toque.

De Leme, passando por Pirassununga, chego a Porto Ferreira com o carro a 110 e a cabeça a 1000.

De Porto Ferreira a Cravinhos já me cansa essa saudade. Tenho que cuidar para não pisar tão fundo. Ela não gosta... “Vou dar um soco na sua cara”. Não consigo deixar de sorrir.

Depois de Cravinhos a placa: “Ribeirão Preto 18 km”, que é quando eu penso que falta mais ou menos 1 hora. Um sorriso sincero e um suspiro. Agora falta pouco. Cada vez menos.

De Ribeirão Preto a Batatais a estrada já está bem vazia, mas minha alma cheia.

O maior trecho é de Batatais a Franca. A cada curva, cada subida, a tentativa de avistar as luzes da cidade-destino. É lá que ela está. E lá que quero estar. E depois, pouco tempo no relógio, mas muito para quem ama, posso finalmente beijá-la naquele corredor escuro, tendo a certeza que é ali que pertenço.

Agora, longe novamente, mal posso esperar para começar tudo de novo.

quarta-feira, junho 11, 2008

"At every occasion I'll be ready for the funeral" (Band Of Horses)

terça-feira, junho 10, 2008

10 anos depois

Ela desceu meio sonolenta a escada ainda com a pele marcada pelo constante toque dos lençóis. O silêncio das manhãs de sábado lhe era agradável. E nada se comparava com uma caneca de leite quente com chocolate em pó logo cedo.

Eles já estavam lá fora e ela os observava. Roupas velhas, mangueira, baldes, sabão e aquela pessoinha toda especial, que mal sabia se segurava o cachorro, cujo nome carinhoso era Schop, ou se fugia para não se molhar. Ele parecia explicar detalhadamente cada passo daquele complexo processo para seu filho. Ela sorriu para sua caneca, pensando o quanto ele conseguia ser adoravelmente chato.

Schop chacoalhou seu corpo, como os cachorros molhados fazem para livrar a água incômoda de seus pêlos, molhando os dois ao mesmo tempo. Deram risada do próprio azar, tentando em vão se protegerem. Ela suspirou suavemente, liberando uma alegria sincera do fundo de sua alma que tomou conta de todo seu corpo. Seria apenas mais um sábado como outro qualquer.