segunda-feira, março 29, 2004

Quem disse?

Procuro não temer o futuro por já estar nele. Sempre penso nele, e isso é uma maneira de ficar nele. Claro que esse assunto é complicado, pois nem sempre o futuro que estou é realmente aquele que virá um dia. Isso damos o nome de planejamento. Sentei na frente de um computador e comecei a fazer o meu, na minha cabeça, imaginando como seria bom se as coisas fossem mais estáveis, se eu sentisse menos medo das mudanças, da incerteza. Não gosto de sentir medo. Daí veio uma mosca, e ficou voando no meu ouvido, fazendo aquele barulho chato. Mosca chata! Queria esmagá-la como mais um inseto qualquer, mas tive pena. Ter pena é um dos piores sentimentos do mundo. A mosca continuava viva, muito viva, perto de mim enquanto eu a queria distante. Por pouco não espremi seu minúsculo ser, vendo e sentindo toda a agonia que precede uma morte trágica. Sinto um pouco de arrependimento, mas nem tanto. Aquela mosca não merecia morrer, eu não tinha poder sobre ela, nem sobre qualquer outra. Não ligo para as moscas, elas sempre voam em volta da merda mesmo. Mas, ainda tenho medo. Ser sempre essa bosta, ser sempre tudo isso e nunca ser suficiente. Desculpe por ser humano.

domingo, março 21, 2004

A imagem mais obscura: eu

Quando abro os olhos é sempre a mesma coisa. Até mesmo meus pensamentos, as minhas incertezas sempre estão lá, cutucando o profundo do meu ser. Quando eu fecho os olhos é sempre a mesma coisa, é aquele velho morcego dos anjos, que vem morder meu pescoço toda noite. Maldito. E sempre que quero alguma coisa nova as velhas estão por perto para me atormentar. O passado não passa de um maldito encosto. As lembranças quase sempre são más, para que sozinhos possamos nos arrepender de tudo o que fizemos ou não. E assim começa e termina cada dia, sempre como se fosse o último.

quarta-feira, março 10, 2004

A Continuação (como se alguém ainda se importasse)

Por trás da penumbra sempre há raios de sol. No meio de muitos conflitos, andando de volta para casa na noite quente de ontem, pensei a respeito das coisas. Como já sabemos, pensar não é bom. Pensar dói, pensar faz de nós seres mais infelizes. Mas eu não posso evitar. Cansado, ainda caminhava confiante. A escuridão tomava conta do meu caminho, e eu não sabia ao certo em quais lugares eu estava pisando. Pensei que tudo de ruim que a gente faz quase sempre não é culpa nossa... São quase sempre culpados: os nossos pais, pela nossa criação e educação; as nossas experiências, que são dadas a nós por acaso; a nossa personalidade, que é genética; o contexto histórico, que não escolhemos; a cultura do nosso povo, que também não escolhemos; etc. Enfim, podemos achar milhares de razões para dizer: "Eu fiz assim, mas não me culpe, eu sou apenas um fruto de todo esse conjunto de fatores dos quais não tenho culpa alguma". Somos sempre vítimas, mesmo quando fazemos claramente alguma coisa errada. Mas, pergunto eu a mim mesmo, não sabemos que tais coisas são erradas? Temos sim consciência de nossas ações, e isso basta para dizer que é errado afirmar que "Eu sou assim, pois todos esses fatores me fazem assim". A cultura da vitimização matou completamente a subjetividade. Suplico pela volta da alma influente, e a morte da alma influenciável.

sexta-feira, março 05, 2004

A Crítica (como se alguém se importasse)

Não é por acaso que existe esse medo de ter opinião formada. Claro que optar por não ter opinião formada é uma opinião bem formada, tanto que chega a ser radical. A origem está associada, eu pelo menos acho, na nossa incapacidade de ter certeza de tudo o que acontece na nossa vida pessoal. Não sabemos como o mundo irá se transformar, e que rumo ele irá tomar, e assim nossas opiniões permanecem voltadas para o incerto, pois tudo sempre muda a nossa volta. Ao invés de combater tais situações, optamos por simplesmente apelar para a radicalidade, seja ela a completa falta de opinião (que, como já disse, é uma opinião bem radical) até a crença mais dura em seus princípios inegáveis. De qualquer forma, apenas lamento o aumento do medo em detrimento da racionalidade.

quinta-feira, março 04, 2004

A retransmissão chega através do "bollean"

Estou cansado de ouvir falar que "tudo é relativo". As idéias pipocam na nossa frente, e tudo o que podemos concluir, de acordo com os relativistas, é que tudo está certo, e tudo está errado. Então você fala: "não concordo". E falam para você, na sua cara: "Você está julgando, você tem julgamento de valor, você está colocando a sua opinião baseado em um determinado preconceito". E eu digo: "é isso mesmo, agradeço a manifestação da sua pseudo-inteligência". É como um disco riscado. Não há maiores problemas de seguir uma determinada regra moral, muito menos ter seus preconceitos.
Aquele que parte do princípio relativista não deixa de ser engraçado. Ele já parte de um princípio, o relativismo, e de acordo com esse princípio não devemos ter princípios, pois todos eles estão tanto certos quanto errados. A própria determinação dessa idéia já se consome nas chamas de sua própria estupidez. Também dirão os aspirantes a cultos, que não passam de aspirantes, que uma pessoa que assume determinados preconceitos está sendo "cabeça fechada". Ora, assumir alguns preconceitos não implica necessariamente em defendê-los o resto da vida. Assumo os meus, até que outro melhor seja exposto para mim, ou até mesmo pensado por mim.
Então, estou cansado de ter que absorver todas as idéias que chegam a mim, e tentar não ter julgamentos nenhum para não cair na hipocrisia. Mas, diferente dos relativistas, eu assumo a minha hipocrisia, e sem medo eu continuo com minhas idéias, pois eu sei que a verdade (aquela absoluta) não é algo imutável, mas talvez uma constante atualização de nós mesmos (sendo relativista, você paira no espaço vazio, causado pelo medo de errar). Se ser hipócrita é ruim, então errar e mudar de idéia (aprender) também é.

quarta-feira, março 03, 2004

Novidades do fundo do poço

Não sei bem os motivos, mas ando tendo muitos sonhos estranhos. Não sei se é o fato de não estar mais namorando, de não ter mais aquela pessoa com quem contar, ou se é simplesmente o agito de minha vida que está me deixando também agitado. Afinal de contas, tive que trancar a faculdade, meu trabalho está ficando cada dia mais sinistro, e eu volto para casa todo dia pensando no misto: solidão, trabalho, amigos. Talvez esses sonhos sejam apenas o reflexo da minha chegada ao fundo do poço. Antes de finalizar, peço a todos que não leiam "no fundo do poço" como se fosse algo ruim. Eu estou é cavando, me enterrando, em busca de um tesouro que eu sei que está enterrado bem abaixo de mim.

segunda-feira, março 01, 2004

Na beira da estrada havia uma mulher solitária. Andava olhando seus pés, e seu vestido sempre queria ser levado pelo vento. Andou durante horas, sozinha, sem ver nenhum carro passar por perto. No final da rodovia havia uma placa, que foi ignorada por ela. E exatamente naquela placa ela terminou os seus dias, sentada em sua sombra, cantando os hinos que agora já estão esquecidos. Assim como ela.