segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Tristão da Cunha – 3

Pouco depois que saí do banho eu ouvi duas batidas leves na porta. Finalmente deixei o quarto imundo que ficava nos fundos do barraco do John. Depois da mudança consegui passar mais tempo comigo mesmo, que foi o real objetivo de ter vindo para essa ilha.

- O... Oi...

Era a tímida Jane, com o rosto vermelho e usando um vestido de outono cafona. Conheci-a quando acompanhei o velho John a uma igreja protestante. Ela estava sentada junto à mãe, orando pelo falecimento do pai em alto mar.

- Aquele lá fugiu em um navio. Nunca foi homem de uma mulher só... – resmungou John durante uma de nossas conversas pesqueiras.

- Tome – Jane estendeu um pote de plástico contendo algo quente – Imaginei que... Enfim... Pudesse estar com fome – E deu dois passos para trás assim que senti sua mão trêmula tocar a minha.

Agradeci e ela sorriu com o olhar baixo, ficando ainda mais vermelha. Em outros lugares do mundo bastaria abrir um pouco mais a porta, pegar uma cerveja e logo já estaríamos dançando nus sobre meu colchão. Mas quanto menor a comunidade mais forte são os valores morais, essa peste imunda que corrompe os corações humanos, enchendo-os com podridão até a boca e não deixando lugar para aquilo que é realmente belo e verdadeiro.

Não pude deixar de sorrir na ilusão que Jane estava criando para si mesma enquanto jogava no lixo aquela gororoba fedorenta que ela havia me oferecido.

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