quinta-feira, janeiro 10, 2008

O gato e o rato

Abri a porta de modo lento, para que meus olhos pudessem ver melhor através da pouca luz que vinha do escritório. Ele estava sentado olhando alguns papéis sobre sua mesa. Aparentemente nem notou o barulho da porta e minha presença ali. Somente aparentemente.

- Sente-se.

Sua voz soou suave, porém firme. Sentei na cadeira logo a frente. Ele não tirou os olhos dos papéis um segundo sequer.

- Sabe o que é... Eu não... Bem, é difíc...

- Tá, tá, tá...

Categorigamente amputou minha tentativa de explicações. Um remoto "tá" repetido três vezes. Toda sua autoridade estava presente naquela sala. Desde o som forte dos "tás", passando pela cortina meio aberta, sua mesa devidamente organizada e chegando na foto de sua esposa com seus dois filhos pendurados na parede. "Eu também tenho uma família", pensei. "Ele vai considerar isso".

- Ainda estou ponderando sua importância...

Um calafrio subiu na minha espinha. Seja lá o que ele quis dizer com isso, não soube decifrar se era bom ou ruim. Resgatei forças do além para responder:

- Agradeço!

Então finalmente ele parou de olhar aqueles papéis. Mas foi de maneira repentina, quase como se eu tivesse dito alguma palavra mágica que despertou algo naquele olhar maquiavélico.

- De nada - disse ele, suspirando - porém não há nada que eu possa fazer no momento...

Foi então que saquei minha arma do paletó. Dei três tiros. Dois no peito, um na cabeça.

Fechei a porta atrás de mim, pensando: "e eu achei que esse filho da puta fosse servir para alguma coisa!".

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial