segunda-feira, julho 31, 2006

coisas que só acontecem comigo

Resolvi ver preços de acessórios para computador aqui no Kenya (compensa no preço). Fui a uma loja, próxima ao meu trabalho. A atendente olhou para mim e, como todas as outras, perguntou o que eu queria. Falei: produto “A”. Ela se levantou, olhou nas estantes da loja enquanto eu esperava. Ela olhou, olhou e nada. Ela voltou para o lugar onde estava inicialmente e abriu uma espécie de caderno, escrito à mão, e começou a procurar em uma relação de nomes. Depois de alguns minutos ela falou o preço do produto, mostrando o nome no caderno: “é esse aqui”. O preço era absurdamente caro e o produto também nem chegava perto do qual eu queria (tinha outro nome e outra função totalmente diferente do produto “A”). Ela ainda apontou na estante, devidamente fechada com vidros, o produto que ela tinha me mostrado o nome. E eu falei: “não é isso que eu quero, isso é um produto ‘B’, eu pedi ‘A’”.

Por sorte (?), enquanto ela procurava na relação de nomes, eu vi na estante um produto parecido com o “A”. Poderia ser ele. Então, antes dela falar alguma coisa, eu apontei para a estante e falei: “é aquele lá!”. Ela olhou, falando um “ãhn”, e começou a procurar na relação de nomes pelo preço. Mostrou para mim e o preço estava dentro do que eu esperava, o que reforçou ainda mais a possibilidade de ser realmente o produto “A” que eu estava procurando. Mas para ter certeza eu tinha que ver de mais perto, ler as especificações e, como um bom engenheiro, fazer a relação custo / benefício do produto para ver se compensava. E pedi para vê-lo. Mas a resposta foi inesperada: “não tenho a chave para abrir a estante”. Não fiquei tão impressionado, às vezes o dono da loja não confia muito nos funcionários e mantém a porta trancada. Então eu perguntei quem estava com a chave e ela respondeu que com o dono. E eu perguntei (sim, tive que perguntar) onde o dono estava e ela respondeu que ele estava “around” (por perto), mas não na loja. Então eu perguntei (sim, tive que perguntar) quando ele voltava e ela respondeu que ia verificar. Ela voltou para a mesa, pegou o celular e digitou um SMS. Logo depois ela voltou e falou: “14hs ele está de volta”. Ótimo, eram quase 12:30 e eu já tinha perdido quase 30 min do meu almoço no deslocamento e com aquele papo que não levou a nada. Agradeci, falei que voltava às 14hs (se pudesse) para ver o produto.

Felizmente, do outro lado da rua, existe um restaurante italiano. Nunca tinha ido então resolvi experimentar. Entrei, fui atendido e fiz meu pedido. A entrada demorou 30 minutos para vir e a comida mais 30 minutos, totalizando 1 hora de espera para o prato principal. Em meia hora comi, e pedi a conta que demorou mais alguns bons minutos. O padrão queniano estava sendo respeitado até então, com a exceção que tudo o que pedi veio certo e tinha disponível. Na saída olhei para o relógio e faltavam 5 minutos para as 14 horas. “Perfeito, agora posso ver o que eu quero”. Voltei na loja, chegando um pouco antes das 14 horas, e a atendente só exclamou: “ah, está de volta”. Então eu perguntei pelo “dono da chave” e ele ainda não estava lá. Tudo bem, eu cheguei 1 minuto antes mesmo, resolvi esperar. Fui ao banheiro, voltei, sentei, li alguns catálogos, folheei uma revista, li mais catálogos, olhei alguns produtos atrás da vitrine sem a chave e nada do responsável chegar. Mais de meia hora esperando, sendo que eu já sabia que ele chegaria 14hrs. Perdi a paciência, e fiz cara feia e falei para a atendente que não podia esperar. Ela pediu para eu deixar meu celular para assim que ele chegasse ela me ligaria (e enquanto eu esperava ela tentou entrar em contato com o dito cujo, sem sucesso). Eu respondi que não estava disponível o tempo todo, que eu não podia ficar saindo do escritório, e que eu trabalhava (e dei ênfase ao verbo “trabalhar”). Ela, obviamente, não entendeu. Então eu fiquei calado um tempo e não resisti e falei: “quando ele chegar avise que ele está perdendo dinheiro. Muito obrigado” e saí logo em seguida. Duvido que ela avisou.

No caminho de volta para o trabalho fiquei pensando. Não é a primeira vez que me deparo com atendentes totalmente despreparadas, que nem sabem o que estão vendendo ou fazendo dentro de uma simples loja. Ainda mais atendentes que não podem sequer tocar no produto e mostrá-lo ao cliente. Sim, eu era um CLIENTE. E, ainda no caminho, ri da minha inocência de me preocupar com esse tipo de coisa, que aqui eu já devia estar acostumado.

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