segunda-feira, maio 16, 2005

João e os sapatos vermelhos numa manhã de sol

João era aquilo mesmo, uma mistura de angústia e dúvidas sobre duas pernas magras. Ele sempre via as coisas com seus olhos pessimistas, apesar de acreditar fielmente que um dia as coisas poderiam melhorar. Mas que coisas? Apenas falar “coisas” era uma maneira muito vaga de se expressar. E João sabia disso, por isso não dizia mais nada além de “as coisas vão melhorar”. Seria ele realmente um pessimista? Mas isso não importa. O que interessa aqui é apenas uma coisa.
Trabalhava longe de casa. Demorava horas e horas dentro de um ônibus lotado entre a sua casa e o lugar onde trabalhava. Na verdade não era apenas um ônibus, mas uns três. Quando chovia eram quatro. Não gostava de andar de ônibus, mas sabia que não podia ser diferente, por isso aceitava essa situação. Pelo menos aparentemente. No trabalho as coisas não eram diferentes. Sempre a mesma coisa: cartão, digitação, almoço, digitação e cartão. E todas as noites, quentes ou frias, o ritual era sempre o mesmo até deitar em sua cama e fechar os olhos. Uma pessoa comum, vocês poderiam dizer, mas com alguma coisa especial. Como cada um que lê essa história? Não.
Mas não se ofenda com essas declarações. João era especial, mas você não. João é uma criação da minha cabeça, e a sua história pode não ser real, mas é verdadeira. E isso o torna especial. E você? Infelizmente você não é uma criação da minha cabeça. Não que isso seja condição suficiente para você não ser especial, mas não é da maneira de João. Mesmo não sendo como ele, acredito que você entende o que quero dizer.
Mas você, querido leitor, fazendo parte dessa história, ao lado de João, tão especial, acredito que de certa maneira também tenha sua carga de importância. Em outras palavras, você também vira parte dessa trama, pois está presente nessas linhas. E, sendo assim, talvez você também seja uma criação da minha cabeça. Igual ao João. Dessa forma você também pode ser especial como João. Então não existem motivos para fazer essa cara de “o que é isso?”. Se bem que até deve existir motivos para isso...
Mas e João? Nada. João nada. Eu apenas queria dizer que ele não usa sapatos vermelhos em manhãs de sol.

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