quinta-feira, abril 14, 2005

Capítulo Final

O que é mais estranho é essa lei, chamada vida. No começo eu até achei engraçado, mas depois eu chorava feito um condenado diante dos fatos que não conseguia compreender. Taxei todo mundo de louco. Mas o insano era eu, e essa descoberta veio muito tarde. Já estava com as mãos manchadas de sangue e óleo, e apesar de conseguir ver claramente todos os fatos finalmente compreendi que não era capaz de entender como eles estavam interligados.
Desci as escadas atrás dela, que chorava e gritava constantemente. O lapso de minha mente e minhas lembranças não me deixou raciocinar corretamente. A única coisa que tinha certeza era que eu não queria perdê-la. Não sabia mais seu nome, nem como ela tinha parado ali. Só sabia que já a tinha visto. Ela estava de costas para mim, deitada. Mas naquele momento ela corria por entre corredores e árvores, com lágrimas lavando seu rosto e gritando meu nome com ódio. E a única coisa que eu conseguia fazer era assistir a tudo, correndo atrás dela suplicando pelo perdão de pecados que eu não havia cometido. Se eu soubesse da verdade tudo seria mais fácil.
Ela parou e se virou. Sim, eu conhecia o rosto dela. Mônica, minha namorada. Não, não era a mesma pessoa de outra ocasião. Bem que eu gostaria, mas se fosse ela eu a teria reconhecido. Ela olhou para mim e disse palavras que eu não pude compreender, pois não reconhecia mais nada de racional em nenhum lugar. Nem mesmo na linguagem, nem mesmo na tentativa de comunicação. Bosques de cidades com árvores e paredes. Grama e asfalto se misturavam, e ao redor prédios inteiros diante de cachoeiras de água azul e fria. Meu próprio ambiente entrou no caos.
Então veio a luz. A luz que indicou o caminho. Não era necessário mais ter ordem, de nenhuma espécie. Por isso eu deitei no chão úmido pelas nuvens. A cabeça apoiada na grama, o braço direito caía sobre o asfalto. O braço esquerdo estava sobre rochas vulcânicas e as pernas em oceanos e lagos. E tudo isso fez sentido. Ao meu lado Mônica não chorava mais, não corria e não gritava. Estava em paz. Havia compreendido tudo. Então meu amigo (será que podia chamar de amigo?) abriu aquilo que parecia ser uma porta e viu ela ainda de costas para mim, deitada.

FIM

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial