quinta-feira, dezembro 23, 2004

Estética

Necessidade

Não faz muito tempo decidi estudar arte. Não do ponto de vista técnico de uma arte específica, como o cinema, que é uma de minhas paixões, mas sim a sua particularidade associada a sua universalidade. E assim surge a estética em minha vida, ou a filosofia da arte, como também é conhecida. A arte, independente de qual for, está sempre presente em nossas vidas. Sempre esteve e sempre estará. Como entender o que ela significa? O que ela é afinal? Como é possível? Várias perguntas perturbavam minha mente, melhor ainda, ainda perturbam. Esse foi um dos combustíveis que me fizeram crer na existência da necessidade de estudar a arte. Hoje ainda. Mas existem outros pontos que devem ser levados em consideração.
São dois pontos essenciais que, na minha opinião, demonstram essa necessidade. O primeiro é como usualmente vemos e lidamos com a arte. As opiniões correntes me incomodam, por já terem sido ultrapassadas, ou por serem apenas frutos de raciocínios abstratos ao extremo, apelando para argumentos infundados recheados de uma pseudo-crítica cultural. Inútil. O segundo ponto é a própria arte contemporânea, o jeito como ela é praticada e os ditos “artistas” com seus conceitos insensíveis. Grave problema. Adianto que o primeiro ponto nasceu na minha experiência individual. O segundo nasceu da associação de algumas idéias com um olhar mais especulativo para a arte atual.
Não foi difícil perceber que ninguém se importa muito com “pensar” a arte. Quando propus essa atividade para muitas pessoas, elas sequer se atreveram a responder. Desenvolvi idéias, propus sistemas e enviei para alguns. Apenas uma pessoa respondeu, com quem atualmente ainda discuto esse assunto. Ninguém se importa com isso. E quais são os motivos? Ninguém gosta de pensar a arte. Um grande problema, pois aqui reside o grupo de pessoas que estão dispostas a simplesmente deixar a arte tocar suas sensibilidades, e assim olhar com prazer para uma obra de arte e dizer: gosto disso. Apenas por ser interessante, externamente é claro. Para atingir uma determinada “arte-em-si” (por assim dizer) é necessário muito mais do que isso. Aliado a isso eu consegui, graças a Internet, diversas opiniões de pensadores anônimos sobre várias questões artísticas (estéticas). Foi impressionante como muitas delas sequer possuem bases racionais. Declarações de que “tudo é arte” servem de recheio para a ignorância a respeito desse assunto. Conclusões são fáceis de tirar. Acertar que é difícil. Mas ninguém parece se importar.
A própria arte não ajuda. No início do século passado, Duchamp alterou nossa visão de arte com seus objetos do cotidiano expostos em museus. Hoje sabemos que, além de ter o seu humor, Duchamp também queria provocar. Fazer as pessoas pensarem a respeito da arte, perceberem que ela é mais que pura sensibilidade. Obviamente ele foi distorcido. Atualmente o que conhecemos como “arte conceitual” é fruto desse movimento iniciado no início do século passado, e que hoje em dia ainda incomoda muita gente. O próprio termo que define esse estilo, a “arte conceitual”, já é em si contraditório. Por um lado interessante, por outro deprimente. Se ele fosse visto realmente como uma contradição e fosse usado para compreender melhor que nos cerca, então seria aceitável. Mas esse termo é apenas utilizado para ilustrar a nossa total falta de compreensão do assunto. A arte é essencialmente conceito e sensibilidade. No primeiro ponto, citado acima, as pessoas não querem discutir arte. Apenas se deixam tocar pelo sensível, e ignoram o conceito (raciocínio) que está associado a ele. A “arte conceitual”, o segundo ponto, sugere o oposto. Aquilo que toca nossa sensibilidade não é importante, mas sim aquilo que vem na nossa mente. Duchamp questionava exatamente essa relação. Hoje em dia essa relação foi esquecida, em lugar de “obras de arte” puramente conceituais, ou seja, o que é sensível não importa, mas sim o que é pensado. Mas esqueceram de Kant e sua crítica aos modernos. Com ele aprendemos que o puro raciocínio, por mais sistemático que possa parecer, cai no vazio extremo quando não é associado a nenhuma efetividade. A “arte conceitual” é isso. Puro devir em torno do nada, pois aquilo que ela realmente é não é ela mesma.
Tudo isso junto cria a necessidade de pensar a arte. O desprezo das pessoas e dos artistas, a falta de consideração para aquilo que a arte vem a revelar. O perigo em vista é a falta de segurança de afirmar aquilo que vemos e pensamos... Não realizar a união do sensível com o moral (Hegel), mas sim pender para um desses lados e assim cair na escravidão de nossos desejos ou na incerteza de nossas fantasias. Em qualquer um desses casos: apenas lamento.

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