domingo, dezembro 19, 2004

Capítulo 08

Sentei no chão com as costas encostadas na porta trancada. Abracei minhas pernas e coloquei a minha cabeça entre meus braços e comecei a chorar. Como era possível tudo isso? Xingava tudo, desde minha mãe que tinha me colocado no mundo até os autores daqueles livros que se encontravam naquela estante.
De repente eu percebi que de nada adiantava ficar ali parado. Também notei que não adiantava fazer qualquer outra coisa, pois eu realmente estava preso. Preso dentro de minha própria prisão. Eu me sentia como uma peça de um jogo maquiavélico. Tudo era tão estranho, mas ao mesmo tempo não tinha como ser diferente.
Levantei. Dei alguns passos até atingir a cadeira cor-de-rosa. Essa cadeira me incomodava demais, pois ela destoava da mesa e da estante, que eram de madeira. Essa cadeira cor-de-rosa... Não lembro quanto tempo fiquei em pé do lado dela contemplando a sua estranheza. Mesmo assim decidi me sentar nela.
Puxei a cadeira um pouco para que ela se afastasse devidamente da mesa. Assim minhas pernas poderiam passar através desse novo vão, criado por esse movimento, e assim eu teria o conforto necessário para executar a minha tarefa. Em outras palavras: sentei na cadeira. Foi como acordar de um sonho. Finalmente eu estava entendendo o porquê daquela cadeira ser cor-de-rosa. Não tinha outra cor possível. Só aquela se encaixava naquele ambiente. Azul? Verde? Nada disso, a cor era, e devia realmente ser, cor-de-rosa. Sorri alegremente diante daquela visão, onde todas as peças do quebra cabeça se encaixavam finalmente. Passei a girar alegremente a cadeira, contemplando todo o cômodo que estava agora em perfeita harmonia. Também comigo.
Depois de alguns instantes eu parei de girar a cadeira, mas ainda olhando atentamente cada detalhe daquela sala. Sorrindo sempre, diante da claridade dos meus pensamentos. No meio de mais algumas conclusões que eu tirava, ouvi novamente o barulho de chave na porta. Levantei apressado, e dei passos largos até o meio daquele escritório. A porta se abriu. A escuridão de lá de dentro não revelou de imediato quem estava por trás disso, mas aquela pessoa deu dois passos para frente, de modo que todo seu corpo fosse iluminado pela claridade do escritório e assim ela se revelasse para mim. Era a moça do balcão de informações.

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