sexta-feira, dezembro 03, 2004

Capítulo 05

A visão não era bela. Um guarda, roupa escura, óculos escuros, boné preto e cara de poucos amigos. Ele olhava sério para mim enquanto eu tentava descobrir se ele olhava para mim ou não. Sério ele se aproximou e parou a menos de um metro de mim, com as mãos na cintura.
- Qu´cê tá fazendo aqui?
- Apenas de passagem...
- Me acompanhe, por gentileza.
- Mas eu estou apenas de passagem!
- Por gentileza – Ele se aproximou mais ainda – venha comigo.
Ele segurou meu braço com força e começou a me puxar. Eu não queria ir com ele, não queria entrar naquela fábrica, mas era inútil resistir. Ele estava armado, e eu não queria arriscar a minha vida, mesmo sabendo que lá dentro ela poderia correr mais risco do que fora, com o guarda. Confesso que também estava curioso.
Pelo braço o guarda me empurrou para dentro daquele portão azul esverdeado. A fábrica tinha paredes azuis, certamente, mas de perto pareciam verdes. Talvez fosse o jogo de luz, o anoitecer, o entardecer, o amanhecer. O tempo certamente estava dando voltas, mas não as voltas que conhecemos comumente. Aquela cidade não era mais a mesma.
O guarda trancou o portão e me deixou esperando enquanto ele entrava na cabine. Vi quando ele pegou o telefone. Olhei para a rua, através da grade do portão azul esverdeado, e ouvi o guarda dizer “Não vai acreditar quem passou aqui...”. Um pequeno silêncio, eu me sentia como um preso, mesmo nunca ter tido essa experiência. “Não vou dizer quem é, você tem que ver por conta própria para acreditar”. As nuvens formavam um lento balé em cima da cidade, e foi olhando que percebi que estava sendo levado sem o meu controle para um lugar qualquer. Tudo culpa da moça do balcão de informações. Passei a desejar o mal dela. “Tudo bem, tchau”.
O guarda saiu da cabine sorrindo. Ele se aproximou de mim e me pegou pelo braço novamente, mas desta vez mais gentil. Certamente ele sabia que com o portão trancado eu não tinha como fugir, eu devia ter tentado escapar muito antes... Então ele me levou para a fábrica azul esverdeada.
A fábrica tinha vários portões, todos em tons azuis escuros, ao longo de sua estrutura. Porém o guarda me dirigiu até uma pequena porta lateral, que parecia ser a entrada de funcionários, mas não uma entrada principal... Uma entrada longe da linha de produção. O barulho de máquina, que eu não sabia dizer do que se tratava, aumentava na medida que me aproximava. O guarda me deixou na porta e deu as instruções.
- Entre. Vai andando. Até o final.
Antes de eu protestar, ele retirou um molho de chaves azuis do seu bolso preto e com uma delas ele abriu a porta. Lá dentro estava escuro.
- Não vou entrar até você me dizer do que se trata tudo isso! – Eu disse, engolindo o medo.
- Você não tem escolha.
Ele me empurrou para dentro, vencendo meu esforço com esse movimento inesperado. Caí de joelhos no chão do corredor, espalhando todos os meus pertences. Tudo ficou escuro, pois o guarda fechou a porta atrás de mim. Antes de me levantar apenas ouvi o barulho da chave trancando a porta atrás de mim.

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