segunda-feira, agosto 16, 2004

Capítulo 06

Depois de muito lutar em meus pensamentos, olhei para aquela mulher e me levantei da cama. Nada poderia ser dito, por isso apenas estendi a minha mão delicadamente. Ela levantou os olhos úmidos e me encarou demoradamente. Eu sabia que ela não podia entender nada. A gente tinha que sair daquele quarto.

Olhando em seus olhos eu fiz um sinal com a cabeça para que ela ficasse afastada, pois eu estava preste a abrir a porta. Devagar fui girando a maçaneta, e aquela bela moça estava muito assustada e nervosa. Abri a porta totalmente, revelando o mesmo corredor que já havia visto, mas que agora parecia outro para mim. Estava escuro, e permaneci bons minutos olhando para aquela mistura de penumbra e silêncio.

A humanidade estava assustada. Não havia nada para ser feito, apenas esperar para o fim de nossos tempos. Nada ainda fazia sentido. Os motivos eram desconhecidos. Todos estavam cansados de tentar encontrar respostas, montar um determinado quebra-cabeças. Cada dia era uma novidade diferente, era uma estratégia diferente a ser utilizada. No final, quando muitas informações estavam juntas, a confusão tomava conta e ninguém sabia explicar mais nada.
Ainda estava em pé olhando para fora do quarto. Nada aconteceu, nem em mim mesmo. Resolvi colocar o pé para fora do quarto e antes de pisar no chão do corredor senti uma mão me puxando de novo para dentro. Era ela, sempre ela:

- Não, por favor, não faça isso.

Permaneci alguns instantes ainda olhando para fora. Me virei e encarei-a. Ela estava assustada e eu perguntei:

- Qual o problema?

Ela estava confusa, eu podia ver claramente em seus olhos. Ela hesitou muito, e no fim não me disse nada. Me abraçou apertado e encostou seus lábios nos meus. Um beijo molhado e demorado. A porta ainda permanecia aperta. Não conseguia entender, o beijo só poderia acontecer no final, quando tudo estivesse resolvido. É assim que acontece com todas as histórias de heróis, que vemos em filmes. Eu era o herói, eu deveria me dar bem no final. Mas ainda não estávamos no final, o que me deu calafrios, pois talvez o final não fosse bom. O beijo acabou assim que pensei nesse final. Ela ficou alguns segundos de olhos fechados, ainda em meus braços. Ela abriu os olhos e me disse:

- Desculpe... Eu... Não sei o que... Aconteceu comigo. O que está acontecendo aqui?

Era uma pergunta sem resposta, e eu tinha a clara noção disso. A porta ainda estava aberta, e eu podia sentir o ar do quarto sendo renovado. Pelo menos alguma coisa estava mudando, pelo menos isso.

Milhares de pessoas estavam morrendo todo dia.

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