sexta-feira, agosto 13, 2004

Capítulo 05

A penumbra tomou conta do quarto, e alguma confusão começou a tomar conta de minha cabeça. A luz não entrava diretamente, mas ela fazia a coberta brilhar, deixando todo o cômodo em uma espécie de sombra, e não na escuridão absoluta. Ainda podia ver nitidamente todas as coisas, embora tenha demorado alguns instantes para acostumar os olhos. Olhei para a moça, e ela parecia confusa. Nesse momento milhares de lembranças começaram a retornar na minha cabeça, e eu senti minhas pernas tremerem. Lembrava de tudo, de todos os motivos, do que estava fazendo alí, do que tinha que ser feito, de quem eu realmente era, tudo! Era brilhante, era genial. Eu não pude conter a alegria e sorri olhando para a moça. Sem medo disse:

- Agora sim!

Ela olhava para os lados assustada. E me encarava como se eu fosse uma espécie de miragem. Olhou rapidamente para os lados e se afastou de mim rapidamente, me olhando com pavor e exclamando:

- Se afaste! Se afaste! Eu te mato! Eu te mato!

Sabia que essa reação iria acontecer, pois agora tudo estava claro para minha cabeça. Ela fechou os olhos demoradamente. Sua cabeça estava confusa, e eu não tinha outro remédio a não ser fazer o que ela fez comigo. Sentei na cama enquanto ela se agachava contra a parede onde estava a janela agora coberta. Esperei alguns instantes até a respiração dela ficar mais próxima do normal e exclamei:

- Olhe, tudo está bem... Agora você precisa se esforçar um pouco e...
- Quem... Quem é você? O quê você fez comigo? Cadê a Cris?

O mundo estava perplexo. Outros países já tinham sido atacados pelos visitantes estranhos. Era impossível prever seus movimentos. O desespero da população era geral, e todos dormiam agora com um olho aberto e uma arma na mão. Boatos de invasões terrestres já circulavam pelos jornais e pela TV. Muitas lojas foram saqueadas, milhares de pessoas se deslocavam como baratas tontas, de um lado para o outro, a cada sinal de uma possiblidade de visita. A visita, como agora era chamado esses ataques. Nenhuma cidade conseguiu se defender. Mísseis já tinham sido usados nas cidades que portavam tal armamento, mas não surtiram nenhum efeito. Era como se eles absorvessem tudo, desde mísseis de alta tecnologia até vidas humanas... Cientistas tentavam se comunicar enviando em direção aos visitantes sinais em várias linguas questionando os motivos e pedindo explicações. Sempre sem respostas.

Ah, a Cris... Como uma pessoa tão importante para nós pudesse ser esquecida? Eu mesmo não havia me esquecido dela. Ela é a maior prova de que somos ainda seres vivos, de que batalhamos por aquilo que gostamos. Sim, somos dotados da capacidade de gostar. Enquanto ela perguntava pela Cris eu não podia fazer nada, pois de nada adiantaria, ela continuaria alí sentada e desesperada sem entender o que estava acontecendo. Mas um dia isso ia terminar, pelo menos era o que eu gostaria que acontecesse. Ela também, aposto, assim que soubesse, de novo, conforme tantas vezes, o que realmente acontecia com nós dois, quem realmente a Cris era. Um castigo digno de um mito grego, é verdade, mas não era tempo de reflexões filosóficas, mas de um pouco de ação. Sempre na medida certa.

Subitamente algo me ocorreu, algo que ainda não havia sido feito. Essa era a mulher que eu amava, que eu queria para mim... Ela era tudo o que eu precisava. Ela também tinha a sua Cris, e não sei se era correspondido quando as coisas estava invertidas, mas mesmo assim ela fez a opção e me deu a claridade da razão em detrimento da sua depriação mental instantânea. Será que ela me amava também? Ou seria um ato de covardia, por não saber como solucionar esse dilema? Ou simplesmente por preferir ficar assim, inconsciente da verdade... Não sabia o que fazer, mas necessariamente deveria ter uma solução. E se eu tentasse convencê-la das coisas sem abrir a cortina?

Então era isso... Sentado na cama senti o peso da consciência caindo sobre mim. As cortinas tinham sido arrancadas de mim, do meu quarto. Eu nunca iria poder ver novamente as coisas como estou vendo. Essa mulher, essa moça que não é mais estranha, que é o amor de minha vida, que é a minha Cris sem se chamar Cris, sem ter nome, ela fugiu, burlou as leis impostas a muito tempo atrás e me salvou desse brilho desfocado. Sim, era a prova de amor que eu necessitava, ela queria me dizer alguma coisa, algo que eu não pude compreender quando não estava em minha consciência plena. Sinais, ela deve ter dado sinais. Ela continuava sentada no chão, quase chorando, e eu pensava ao mesmo tempo que lançava olhares carinhosos, tentando dizer sem palavras para ela não se preocupar com nada. Um pista foi dada, e eu lembrei de cada segundo desde que acordei até o momento que ela disse: "A intensão é mais antiga que o fato".

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