quinta-feira, agosto 12, 2004

Capítulo 04

Realmente! Realmente! Tudo era verdade! Caí de joelhos no chão. Era impossível conter as lágrimas, que brotavam violentamente de meus olhos e escorriam pela minha face, pelo meu nariz, que já estava ficando vermelho. Coloquei as mãos no rosto, com a esperança mais íntima de que ela não fosse notar o meu desespero. A luz que vinha do sol e cruzava os vidros da janela me serviam de palco, como se eu fosse o ator e o mesmo sol fosse uma luminária barata colocada no pára-peito de algum teatro sujo de subúrbio. Ela estava em pé e olhava para mim. Eu não a via, mas podia sentir o peso de sua pena.
O tempo corria sem parar. Importantes personalidades discutiam as trágicas mortes. O saldo já passava de 4 pequenas cidades totalmente transformadas em cemitérios ao céu aberto. Estranhamente os animais de tais localidades não eram afetados... Somente os seres humanos, o restante dos seres vivos permaneciam vivos e sem alteração. As cidades atingidas não eram próximas umas das outras, mas as cidades vizinhas já começavam a ficarem vazias. Qualquer avião, qualquer balão ou instrumento metereológico já eram suficientes para deixar toda uma população em pânico. Pessoas iam para as cidades desvastadas recolherem os corpos dos parentes e amigos, e a televisão acompanha tudo, com seu habitual show de horrores. Forças armadas internacionais patrulhavam o céu do pequeno país, o único afetado. Por enquanto, como falaram aos microfones os especialistas.
Fiquei mais calmo, e olhei para cima para encará-la. Ela olhava para mim, uma mistura de nojo e pena. Enxuguei as lágrimas e me levantei. Ela disse com a mesma voz suave de antes:
- Não podemos deixar isso assim...
Era necessário fazer alguma coisa. Balancei a cabeça concordando com ela, e olhei em volta. Suspirei fundo para fazer a minha primeira pergunta, mas fui interrompido por ela:
- Fique calmo, não precisa ter medo. Vamos usar esse cobertor...
E ela apontava para o cobertor sobre a cama. Mas como prender no topo da janela esse pedaço de pano? Sim, o supórte já estava fixado na parede logo acima da janela, pronto para receber a vestimenta que irá apagar o sol e a lua, o dia e a noite. Irá isolar definitivamente o dentro do fora. Lá fora fazia sol, um sol bonito. Pensei em praia, pensei em campo. Admirava aquela luz, e sentia o calor de seus raios tocarem minha pele. Estava me sentindo confortável, quase feliz. Recebi um tapa:
- Mandei você ficar calmo!
Foi a sua única exclamação depois de me bater. Ela já segurava o cobertor nas mãos e dobrava calmamente de modo que bastaria colocá-lo sobre o suporte que ele iria pender na frente da janela, cobrindo-a totalmente. Não era necessário fixar, provavelmente a solução seria temporária... Quem se importa? Finalmente falei:
- Estranho essa janela não ter cortinas...
- Note que esse suporte já existia antes das cortinas.
- O que isso tem a ver?
- A intensão é mais antiga que o fato.
Fiquei atordoado. Era ou não era verdade? Ajudei a segurar o cobertor, e juntos fomos passando o pano pelo suporte, de modo que ele cobrisse totalmente a janela... A escuridão aos poucos foi tomando conta do quarto.

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