sexta-feira, julho 23, 2004

Harry Potter e a Pedra Capitalista

            Li um artigo muito interessante a respeito de uma discussão mundial que gira em torno de um outro artigo francês. O autor francês aponta várias coisas interessantes sobre a série de livros do Harry Potter, e de como suas características capitalistas poderão influenciar os leitores a serem apenas consumidores. Não há como negar que o mundo de Harry Potter seja capitalista. O autor aponta vários argumentos convincentes: Os alunos querem sempre o produto de última geração, de preferência que tenha uma marca famosa, a escola onde estudam é particular, e o ensino é voltado unicamente para atividades práticas (e os alunos dormem nas aulas teóricas e mais artísticas, achando tudo muito chato), os funcionários do governo são incapazes ou socialmente problemáticos, etc. O autor do artigo apresenta vários exemplos tirados dos livros da série, o que é muito interessante.
            Porém o artigo finaliza citando um dos "verdadeiros" ensinamento do livro: Podemos imaginar quantos mundos paralelos quisermos, todos serão submetidos às leis de mercado. Interessante conclusão, mas talvez um pouco apresada demais (no fundo eu acho que ele estava sendo irônico).
            Quem leu os livros sabe do que se trata. Não é somente o mundo de fantasia, apesar de ser interessante por sua criatividade (a idéia é boa, vocês devem concordar com isso), que prende o leitor. O que prende realmente são os traços que ligam as duas sociedades, a real (que também é retratada de alguma forma no livro) e a imaginária. É inevitável perceber que vivemos em um mundo regido pelas leis de mercado. Dessa forma a única solução para traçar um paralelo é representar na sociedade imaginária as mesmas situações que encontramos na sociedade real, e assim fazer com que o leitor não somente mergulhe no livro, mas que também brinque com ele e se perca na história traçando constantemente ligações entre o que é real e o que é imaginário. Nesse sentindo, o mundo de Harry não poderia ser outro.
            Não estou defendendo Harry, mas acusá-lo de fazer apologia ao capitalismo é o mesmo que acusar alguém que faz pesquisa na hora das compras a fazer a mesma apologia. Também não acho que seja impossível imaginar sociedades não-capitalistas, e afinal de contas é assim que nasceram as maiores críticas ao próprio capitalismo. A crítica francesa é válida e necessária, pois toca em um assunto que eu não havia parado para pensar.
            Talvez fosse mesmo mais interessante que a sociedade imaginária tivesse um governo mais forte e ativo, que a vida dos bruxos-burgueses (?) fosse menos voltada ao consumismo... Mas não creio que essa seja a intenção da autora, que fez Harry carregar a pedra capitalista para sempre. De qualquer forma, a pseudoloiralipoaspirada já acumulou seu bilhão sem usar nenhuma varinha mágica. E quem se importa?

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